sexta-feira, 7 de abril de 2006

COMO SE RECEPCIONA UMA TELENOVELA

Escrevi aqui sobre a tese de mestrado de
Ana Catarina Valdigem, a 13 de Julho do ano passado. Agora, ela falou do seu trabalho em seminário organizado pela UCP. Tema: Metodologias de pesquisa de recepção: usos da telenovela brasileira O clone e a construção da identidade.

Recupero o primeiro parágrafo dessa mensagem: "Como ponto de partida, ela procurou identificar os processos de reconstrução cultural de grupos diferenciados, tendo como objecto a recepção da telenovela brasileira O clone (que passou na televisão portuguesa há cerca de dois anos). Este produto televisivo representa confrontos culturais (marroquinos e muçulmanos, com peso profundo e complexo na identificação da religião) e sua reconstrução em termos de sentido de identidade ao nível do Eu e do Outro. Quanto a trabalho de campo, Catarina Valdigem escolheu a comunidade religiosa centrada na mesquita de Lisboa e uma comunidade de Palmela (que ela identificou como não sendo muçulmana), para compreender as redes de sociabilidade e de que modo o género, a ocupação profissional e a escolaridade, entre outras variáveis, são determinantes no processo de recepção da telenovela".

Ana Catarina Valdigem escolheria o género telenovela porque se afirma como produto de serialidade que ocupa mais de 50% do prime-time dos canais privados e com grandes índices de audiência e a novela O clone porque apresentava um formato híbrido e com transnacionalização de temáticas de pretensão universal humanística. A história da telenovela assentava na ideia da clonagem humana, com uma componente forte de orientalização de costumes. A investigadora reuniu materiais como fotografias e vídeo promocional da novela, para começar a conversar com respondentes, pertencentes a dois grupos distintos cultural, étnica e religiosamente.

Fez pesquisa de terreno, com observação participante e não participante (escrevendo um diário de campo), entrevistas semi-directivas e inquérito por questionário. Entrevistou seis homens e doze mulheres (o número maior de mulheres deve-se ao método empregue pela investigadora de ir procurando novos respondentes a partir dos iniciais, com as mulheres a indicarem outras mulheres, partindo do estereótipo da novela como género visto por públicos femininos).

O clone - novela que passara na televisão dois anos antes do trabalho aqui apresentado - despertou memórias distintas consoante o grupo entrevistado. Para os muçulmanos, a novela associou-se à representação do Islão, à cultura árabe, à dança do ventre (referida pelas mulheres) e à poligamia (referida pelos homens). Para o grupo de não-muçulmanos, os temas que ressaltaram da telenovela seriam os de toxicodependência, clonagem humana, dança do ventre, indumentárias e acessórios de beleza exótica, confronto de dois mundos.

PARA OUVIR O SOM DO SEMINÁRIO, CLICAR AQUI. Observação: ao minuto 24, há um silêncio que se prolonga por cerca de quatro minutos, resultante da passagem do vídeo de promoção da novela que Ana Catarina Valdigem mostrou, e cujo som saía do computador, logo num registo muito baixo.

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