Li George Steiner, A ideia de Europa (Gradiva, 2006). Retiro um parágrafo da página 44:
Cinco axiomas para definir a Europa: o café; a paisagem a uma escala humana que possibilita a sua travessia; as ruas e praças nomeadas segundo estadistas, cientistas, artistas e escritores do passado - em Dublin, até nos terminais rodoviários se indica o caminho para as casas de poetas; a nossa descendência dupla de Atenas e Jerusalém; e, por fim, a apreensão de um capítulo derradeiro, daquele famoso ocaso hegeliano que ensombra a ideia e a substância da Europa mesmo nas suas horas mais luminosas.
E, mais à frente, após destacar uma palestra de Max Weber, a seguir ao final da Primeira Guerra Mundial (1918), e uma palestra de Edmund Husserl, pouco antes da sua morte e no momento em que a devastação da Segunda Guerra Mundial assolava a Europa, Steiner descreve o génio da Europa, aquilo a que William Blake chamou a "santidade do pormenor diminuto": a diversidade linguística, cultural e social, um mosaico que pode ser percorrido em curtas distâncias (pág. 49). A dignidade do homem, e do europeu, reside na percepção da sabedoria, na demanda do conhecimento desinteressado e na criação da beleza (pág. 53).
Ontem também li o discurso de Luís Miguel Cintra, ao receber o Prémio Pessoa (publicado no semanário Expresso, caderno "Actual", pp. 24-26):
E a ameaça, agora que o público voltou às salas, persiste com nova cara, com novas formas de restringir a liberdade de inventar. Creio que voltámos agora a outra forma de empresário, de patrão: são as próprias regras do mercado, os critérios dos níveis de audiência, a publicidade, o poder da televisão, a demagogia populista. Em meu entender, a ameaça agora é o reino dos programadores, a burocratização, a pré-formatação. E a sua capacidade de integrar no mercado qualquer inovação ou toda a diferença por mais rebelde que seja.
1 comentário:
Também foram leituras que fiz. Percebo que as tenha incluído numa mesma entrada.
A mim, Steiner, apesar da lucidez crepuscular, tem o condão de me reconciliar com o mundo, quando lhe perco o sentido. E gostei muitíssimo do discurso de Cintra porque lhe sinto o mesmo tipo de lucidez e uma grandeza que vem de muito longe. De um outro tempo. Na 6ª feira à noite a tv2 passou o excelente filme "As Invasões Bárbaras". As três referências ficaram-me entrelaçadas. Agora o seu post.
Um bom domingo!
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