domingo, 18 de junho de 2006

NUNO AZINHEIRA TEM RAZÃO


Num email bem escrito e muito completo, Nuno Azinheira, editor executivo adjunto do Diário de Notícias, jornalista que prezo muito e a quem agradeço a mensagem, elucida-me (a propósito de um post que coloquei aqui, onde critiquei "o uso de recursos humanos dos jornais no destaque do mundial de futebol") do seguinte:

  • 1. O Mundial de futebol é um grande acontecimento em qualquer país civilizado.
    2. O futebol não é um produto que interesse apenas aos leitores dos jornais tablóides.
    3. Como (se) pode provar pela leitura de outros jornais de referência como o DN (em Portugal e no estrangeiro), um evento como o Mundial de futebol merece um tratamento de grande amplitude e com um evidente aumento de páginas.
E pergunta-me: "devem os jornais ficar parados, de braços cruzados, deixando que a televisão canibalize ainda mais uma Imprensa que, cada vez mais, perde leitores fieis?". Eu também tenho dúvidas, muitas dúvidas, mas expressei essas mesmas dúvidas. Continua Nuno Azinheira:

  • O Mundial de futebol é uma aposta editorial do DN. Legítima e discutível, como qualquer outra, mas é uma opção forte nossa. Por alguma razão, o DN foi o primeiro jornal generalista português a lançar o seu suplemento do Mundial. Entendemos que um acontecimento como uma prova desta natureza ultrapassa o interesse habitual que os portugueses têm em relação ao desporto e ao futebol. Por alguma razão, os jogos de Portugal têm tido mais de 80% de share na SIC. Não há 80% de portugueses a amar futebol.
Também coloquei aqui o número de páginas dedicadas ao futebol da Alemanha em três distintos jornais (Público, Diário de Notícias, The Guardian). Resultado: 11 páginas cada. Nenhum fica atrás, o que quer dizer que a estratégia é comum. E retiro duas - duas - páginas do Observer de hoje. Art Deco e Big Phil Scolari foram expressões ou nomes que retiro da última página do segundo caderno desse jornal, dedicadas à vitória de Portugal sobre o Irão.



A mensagem de Nuno Azinheira conclui assim:

  • As suas interrogações são legítimas e interessantes, mas, perdoe-me, são teóricas. A vida dos jornais é feita nas redacções. E os jornais são feitos para as pessoas. E as pessoas gostam de ver o Mundial, de ler as crónicas, de ver as classificações, de saber quando são os jogos, de conhecer os jogadores, de saber das lesões. Ora, se até os deputados da Nação mudam a sua agenda consoante os interesses do Mundial de futebol...
O Nuno Azinheira tem razão. Se todos os jornais fazem cadernos sobre o mundial, qual a razão do Diário de Notícias não acompanhar a corrente? Reconheço o meu pendor de olhar as coisas do lado teórico, até em casa me lembram de estar, frequentemente, fora da realidade. Mas temos direito a manifestar a nossa posição diferente da do mainstream [apesar de todas as minhas contradições, como se pode ver neste post aqui]. E vejo que há necessidade de graduar as nossas impressões, como quando se compara o gosto popular com o comportamento dos deputados. Em 1977, os deputados também fechavam mais cedo o Parlamento para acompanhar a novela Gabriela, certamente por causa da actriz Sónia Braga. E, mais recentemente, faltaram ao Parlamento devido a uma ponte de feriados. Apesar de considerar o Diário de Notícias - a par do Público - um jornal fundamental para o conhecimento de cidadãos livres e informados, na mensagem que escrevi, deixei, afinal, apenas uma simples pergunta: as páginas do mundial de futebol fazem vender mais jornais?

Cumprimentos para o Nuno.

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