A leitura atenta do relatório de contas de uma empresa de um dado ano permite saber da saúde dessa empresa e do contexto económico mais alargado. É isso que me leva a fazer umas notas a propósito do "Relatório da Direcção - 2005" do jornal Público, inserido na edição de hoje (pp. 61-65). São cinco páginas de elevado interesse para quem lê aquele diário e quer saber dados da economia dos media.
Três notas iniciais que ilustram 2005, segundo o relatório: 1) aparecimento do novo jornal diário Metro Portugal, que o documento não identifica como gratuito, 2) proliferação de novas colecções por empresas jornalísticas concorrentes, 3) crescimento do mercado publicitário na imprensa, no período de Janeiro a Setembro de 2005 em 2,8%, totalizando 19,1% do mercado (a televisão leva a parte de leão, com 68,8%).
De acordo com o relatório, a circulação do Público baixou 4,3% relativamente ao ano anterior, mas a audiência subiu 0,3%. Venderam-se cerca de 2,5 milhões de exemplares das novas colecções (DVDs, Tintim, História Universal, Let's Jazz e Livros de Cozinha, entre outros), mas este número ficou abaixo do registado em 2004 em -54%. Quebra muito menos acentuada verificou-se nas vendas de publicidade: -4%. Isso traduziu-se num EBIDTA (resultados antes de impostos) com valor negativo de quase €1,5 milhões face ao ano anterior. Ainda em termos económicos e empresariais, em 2005 desapareceram duas empresas do Público: fusão da filial XS e dissolução da Público.pt. A empresa ainda é detentora da Sociedade Independente de Radiodifusão (45%), Unipress (40%) e M3G (100%), todas com resultados positivos em 2005. O número médio de colaboradores do jornal atingiu 291 no ano transacto.
Sobre os conteúdos, destacam-se as seguintes linhas: 1) criação da revista semanal "DiaD", que substituíu o caderno "Economia" à segunda-feira, assente em temas hard news, negócios privados e públicos e informação internacional. O relatório não menciona os custos com a revista, a maior leveza de tratamento dos textos (apesar de frisar o hard news) e a perda do suplemento de computadores, 2) lançamento da revista "Kulto", entretanto descontinuada. O relatório não fala da parceria com a Produções Fictícias na produção da revista, 3) reformulação do primeiro caderno, ao domingo, apostando mais em temas da vida quotidiana ou notícias da semana. O blogueiro já tinha manifestado aqui a alegria em ler as edições de domingo.
Uma conclusão principal do relatório é a perda de circulação paga entre 2004 e 2005, mal que atinge os diversos jornais diários do país. Certamente a crise económica tem peso neste retrocesso de leitura, mas a causa principal parece residir na mudança de hábitos, como os jornais gratuitos, que têm atraído novos leitores. Seria ainda útil comparar com outros hábitos de leitura de informação, como a televisão e a internet. Para além de ver os relatórios das outras empresas jornalísticas. E esperar rapidamente soluções para inverter o decréscimo da circulação paga. As alterações introduzidas pelo Diário de Notícias, no princípio do ano, e as do Expresso, agora, ainda não permitem ver se estão ou não a ter sucesso.
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