quarta-feira, 13 de setembro de 2006

PRIME TIME

É o título do livro de Nuno Brandão, cujo conteúdo veio principalmente da sua tese de doutoramento. O autor analisou 180 noticiários televisivos dos três canais de sinal aberto, cobrindo um período semanal de cada mês de 2003. O total de notícias pesquisado corresponderia a 242 horas e 47 minutos. Os quadros seguintes reconstrui-os a partir do seu material de investigação [para ampliar a dimensão dos quadros, clique em cima deles].


Política nacional, desporto e acidentes e catástrofes são as três principais categorias temáticas (p. 161). As duas últimas categorias aqui citadas constituem um bom exemplo de espectacularidade da informação e dramatização crescente dos noticiários televisivos. Como se observa no Quadro 1, as notícias têm um cunho muito nacional, o que quer dizer que a informação televisiva releva os assuntos internos [prática que também elenquei recentemente, quando analisei os dois principais jornais espanhóis].

Nuno Brandão identifica igualmente um pendor de notícias de âmbito negativo, incluindo as de política nacional. Para ele, "o discurso do poder é visto mais pelo lado negativo do que pelo lado positivo das suas verdadeiras causas" (p. 176), situação que considera preocupante, em especial devido ao serviço público que os canais deviam seguir de acordo com a orientação expressa nas licenças atribuídas.

Outro ponto da sua pesquisa prende-se com aquilo a que chamou "variável natureza", com um peso maior da categoria soft (Quadro 4): a dimensão temporal exagerada dos noticiários leva-os a explorar em excesso temáticas como casos diversos, saúde e serviços sociais. A associação da variável natureza (com peso elevado de notícias soft) com a negatividade de muitas notícias (em especial as que falam de assuntos políticos) acentua o carácter sensacionalista dos noticiários.

O Quadro 5 tem também uma importância grande, com os cidadãos comuns a serem os principais agentes das notícias. Aquilo a que eu próprio (num texto sobre noticiário político) chamara de vozes populares, surge aqui com um recorte mais fino. As notícias que englobam muitas vozes comuns têm uma razão - alcançar essas vozes comuns, que gostam de aparecer na televisão, movimento que está já para além do conceito de neotelevisão (televisão comercial). Nuno Brandão diz mesmo que os cidadãos comuns são os primeiros e principais especialistas que opinam para os telespectadores, com eles identificados. Aos cidadãos comuns seguem-se os jornalistas (comentadores, em directos) e os desportistas (p. 184).

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