domingo, 1 de outubro de 2006

AS PÁGINAS 12 E 13 DO PÚBLICO DE HOJE

São duas páginas de importância vital, segundo a minha leitura. A da esquerda, escrita por João Bénard da Costa, escritor, tem o título Maomé e Hitler; a da direita, assinada por Rui Araújo, provedor do leitor, chama-se O Papa, Maomé e o Presidente.

A página 12 é uma alegria, aprende-se imenso com a erudição do velho dirigente da Cinemateca. O motivo foi a recente auto-censura de um encenador alemão, que retirou uma obra de Mozart com o pretexto que ela criticava, em algum sítio, Maomé (e, logo, os muçulmanos). E também destaca a venda de uns quadros (pelos vistos, mauzitos) do ditador Hitler.

A página da direita deixa-me estupefacto, desalentado e com vontade de nunca mais ler a coluna do provedor. Em quatro colunas, três pertencem a textos de leitores, ao passo que a outra contém algumas linhas produzidas pelo provedor.

Certamente a postura do provedor é correcta, ao chamar a atenção para o mau português que (também) se escreve nos jornais. Mas acho que Rui Araújo ultrapassa o limite do bom senso. Primeiro, porque estas cartas seriam melhor bem publicadas na coluna de cartas ao director, pela pouca reflexão que o provedor faz sobre os temas abordados, excepto quanto mostra tom ameaçador: "O leitor tem razão. Para a semana há mais...". Depois, porque, na já referida quarta coluna, o provedor escreve efectivamente 10 linhas em 43, gastando o resto do espaço com uma carta de leitor e a justificação do jornalista criticado nas outras três colunas. Parece-me que a explicação do jornalista António Marujo esclarece o contexto da tradução, mas o provedor não se coibe de escrever: ""O erro está justificado, mas não deixa de ser um erro. O provedor considera que o jornal devia ter publicado um «O PÚBLICO ERROU»". Pela leitura do texto do provedor, conclui-se que o que falta no jornal é um revisor de provas e não um provedor do leitor. E isso é mau para o provedor e para a direcção do jornal.

Possivelmente, estou a ler mal a visão romântica do estatuto do provedor do leitor do Público quando diz no ponto 5 das suas competências: "Manter uma coluna semanal nas páginas do jornal sobre matérias da sua competência e, em geral, da ética e deontologia jornalística". Aqui, talvez valesse a pena reflectir sobre o editorial de hoje do director José Manuel Fernandes (página 8). Embora bem escrito e actual, e com que eu concordo após a sua leitura, a minha pergunta é: ao referir a edição de seis livros distribuídos pelo Público à segunda-feira [custo de cada volume: €12], não estará a fazer publicidade em espaço de informação jornalística?

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