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O articulista, por achar que o casal Sócrates-Câncio procura a sua privacidade, entende que "essa exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda". Neste caso, um jornal de referência seguiu o trilho das revistas cor-de-rosa, pois estas enveredaram há muito pelo caminho do desrespeito de direitos de privacidade. Nos últimos dias, a capa de uma revista especulava que o mesmo casal nem sequer se cumprimenta quando se encontra em actividades públicas, por destrinça entre público e privado.
Mas nem só as revistas, também a televisão faz o mesmo, até em causa própria, como ontem à noite a SIC transmitia uma reportagem sobre Luciana Abreu. A intérprete de Floribella queixava-se que as revistas têm escrito um conjunto de mentiras sobre si, para vender mais. Nas duas últimas semanas, falou-se de uma doença que a perseguia, da paixão real pelo actor que interpreta o papel de galã na série e contracena consigo, do alto salário auferido e da aquisição de uma casa para si por um preço elevado. Claro que, ao mesmo tempo em que a jovem actriz falava desse desrespeito pela vida privada, a televisão mostrava pormenores da novela, com Floribella a beijar o galã.
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Lendo atentamente Miguel Sousa Tavares, e tomando como verdadeira a sua defesa, há que repensar o fenómeno da blogosfera. Um blogger [uso aqui o vocábulo inglês, para não contaminar a palavra que emprego habitualmente] anónimo não oferece credibilidade, excepto - repito e destaco a palavra excepto - se actuar como fonte anónima e não ter outra forma senão esconder-se no anonimato para denunciar um escândalo ou situação pouco clara, por temer represálias de terceiros.
Claro que o desespero ou a indignação de Sousa Tavares leva-o a escrever algo menos consentâneo com o que publica. Para ele, o universo dos blogues "é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres". Há não muito tempo, o mesmo autor falara dos escritores, universo a que pertence, como tendo igualmente problemas estruturais: mordomias exageradas, deslocações a todo o mundo para debitar as mesmas ideias, exibição de poder em hierarquias bastante rígidas. Por esta descrição não poderemos generalizar e desprezar o mundo dos escritores. Ou dos jornalistas. Ou dos blogues.
1 comentário:
A questão, caro Rogério, é que Sousa Tavares conseguiu o que queria: desviar as atenções do assunto principal que não é, de todo, o anonimato mas antes a sua inépcia para aguentar o que é evidente para quem leu Equador e Freedom at Midnight. Ou seja: as estranhas coincidências entre uma e outra obra. Creio que este é e será O Assunto. No entanto, compreende-se que as pessoas sigam as direcções para onde Sousa Tavares aponta. O anonimato na blogosfera replica o anonimato de inúmeras outras denúncias e boatos que historicamente se situam a milhas de distância da internet. Sempre ouve, sempre haverá. Sousa Tavares sabe muito bem o que fez e o que faz. Endrominar o próximo a coberto de um discurso vitimizador e acusador. Para quem se apresenta como reserva moral da nação é grave mas nem sequer é original. Os moralistas são sobretudo especialistas em deslizes...
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