Amanhã, dia 17, pelas 19:00, na livraria Almedina (Saldanha, Lisboa) vai ser lançado o livro A fábrica do olhar, de Monique Sicard.
Esta obra, considerada um dos cinquenta melhores ensaios e o melhor ensaio de ciência, em França, em 1998, ano em que foi editada pelas Éditions Odile Jacob, leva em Portugal o selo de uma nova colecção pertencente às Edições 70.
Num dos trechos do livro, a propósito do inventário Pierre Belon, lê-se:
Embora a quantidade dos textos impressos e das gravuras dê novo fôlego ao conhecimento científico, fixa paradoxalmente, por muitos anos, as lacunas da observação. O desenho, muito estruturado, do rinoceronte gravado sobre madeira por Albrecht Dürer em 1515 apresenta uma estranheza incontestável. As patas cobertas de escamas assemelham-se às de uma tartaruga. O animal que se diz capaz de vencer um elefante está munido – logicamente – de uma autêntica armadura. A gravura foi realizada sem que Dürer tivesse observado directamente o animal. No entanto, este já chegara sem novidade a Portugal, vindo das Índias. Mas foi logo a seguir enviado para Roma, pois o rei D. Manuel I de Portugal considerava-o presente digno de um papa. A viagem foi dramática. Ao navegar em direcção a Leão X, o navio, vítima de uma tempestade, afundou-se, levando consigo corpos e bens. O rinoceronte morreu afogado. Repescado, foi mais ou menos embalsamado. Apesar disso, Dürer não teve a oportunidade de o ver, nem vivo nem morto. Tomara conhecimento dele por intermédio de um esboço, que depois passou a desenho a pena antes de fazer uma gravura sobre madeira. A gravura teve um sucesso fulgurante. Produziram-se oito edições diferentes – sete das quais póstumas – a partir da madeira original. O Rinoceronte de Dürer foi copiado com as suas imperfeições, utilizado como referência até ao final do século XIX, quando os erros e as diferenças entre o desenho e o animal eram já perfeitamente conhecidos.
Pode ler mais sobre o livro no blogue Mestiçagens, de José Carlos Abrantes, director da colecção.
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