quinta-feira, 2 de novembro de 2006

VOLTANDO AOS SUPLEMENTOS DOS JORNAIS E AO CINEMA


Olhando melhor para os suplementos de sexta-feira passada - "6ª", do Diário de Notícias, e "Y", do Público - detecta-se um alinhamento notável com o filme A Prairie Home Companion - Nos bastidores da rádio, um outro filme em que Meryl Streep actua. Ambos os suplementos dedicam duas páginas ao filme de Robert Altman (81 anos), um deles (Diário de Notícias) com uma entrevista à actriz e os dois jornais com textos dos seus críticos mais conceituados (Mário Jorge Torres no Público e João Lopes no Diário de Notícias).


O filme reconstrói a existência de um programa ao vivo para uma rádio local (WLT), no Minnesota, chamado exactamente A Prairie Home Companion, que, ao fim de mais de trinta anos de emissão com músicos country a partir de um teatro, encerrava para dar lugar a uma outra função. O filme narra o último espectáculo ao vivo, conduzido por Garrison Keillor, o apresentador do próprio programa (que felizmente ainda existe a partir do teatro Fitzgerald em St. Paul, Minnesota) e co-autor do argumento, ao lado de Altman.

Para além da recriação de um programa ao vivo para uma rádio - e como são sempre bonitos os filmes que falam sobre a rádio -, há um entrelaçar constante entre o espectáculo a partir do palco e as pequenas histórias que se contam nos bastidores. Isto torna os 105 minutos do filme numa recepção agradável, com Meryl Streep a cantar ao lado de Lily Tomlin, uma das cantoras que Streep aprecia muito. Um outro papel importante é desempenhado por Kevin Kline, na personagem de um detective particular transformado em segurança do cinema, Guy Noir (o tipo noir, em homenagem ao film noir).

Nunca se vê a estação de rádio, exceptuando no genérico, mas é muito curiosa a ligação entre publicidade e espectáculo. Garrison Keillor canta ou lê directamente os anúncios publicitários, prática hoje abandonada pelos realizadores e autores de programas que inserem automaticamente a publicidade. A forma como é feita no filme estabelece um continuum entre publicidade e espectáculo, funcionando aquela dentro deste, como se fosse natural. Se quisermos, é product placement, semelhante ao que se faz na televisão, mas de um modo bem mais engenhoso. Quando não aparece a folha de publicidade a uma fita adesiva, perdida no meio de muitos papéis, o apresentador e as cantoras de serviço vão improvisando diálogos enquanto um imitador de sons acompanha o diálogo: um orangotango, queda de vidros e muitos mais sons. A rádio em directo era obrigada a emitir para recriar situações e paisagens e não havia espaço para o silêncio.

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