segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

ERC

A leitura das declarações de voto de dois dos membros do conselho regulador da ERC, editadas no Público, o texto de Eduardo Cintra Torres de ontem e o comunicado à imprensa de hoje por parte da ERC levam-me a fazer um pequeno comentário, reforçando as ideias que aqui escrevi há dias. Logo: o que é que eu penso sobre a questão Cintra Torres?

Primeiro, o articulista Cintra Torres deveria ter sido mais cauteloso no uso das palavras. Isso não implica auto-censura. Segundo, a ERC deveria ter mais prudência nas suas deliberações, até porque o conselho votou dividido e a declaração de voto de Rui Assis Ferreira está muito bem argumentada. Terceiro, a discussão (e eventual perda de razão) desenvolve-se e vai por caminhos de crispação desnecessários: a) com artigos como o escrito por Cintra Torres ontem (trazendo à discussão a influência governamental em Espanha sobre a televisão pública em livro recentíssimo, et pour cause...), 2) não se apaga com um comunicado à imprensa da ERC, hoje emitido, decretando o fim da discussão. Havendo duas partes, uma não pode declarar o fim do assunto sem a outra o aceitar. Quarto, e na sequência do anterior ponto, se o editorial de José Manuel Fernandes foi violento, a resposta de hoje da ERC usa a mesma estratégia, ao escrever sobre espírito de "coragem" e "lutador" da liberdade do mesmo director. Aprendi que as instituições públicas (de Estado ou a ele ligadas) precisam de temperar a linguagem.

Em meu entender, as duas partes, se assim poderemos falar, excederam-se. Foram longe de mais nas apreciações. Ora, o crítico de televisão é imprescindível no seu exercício livre e a ERC é uma instituição igualmente importante na regulação dos media. Podemos não gostar dos dois ou de um numa situação concreta mas eles não se podem eliminar. Ou decretar a morte de um ou outro. A ERC é uma instituição de equilíbrios com uma estabilidade muito precária, até pela sua organização, que emana do poder político com representação parlamentar. Havendo novas eleições, a ERC poderá ter uma outra ponderação. Pena que ela não esteja mais abrigada desta conflitualidade de proporções partidárias, como eu li aquando da sua construção.

Entendo que o tema - controlo sobre o serviço público, a haver - precisa de continuar a ser discutido no espaço público. Mas também a concentração dos media, o peso das fontes institucionais ou grupos de pressão, os assuntos relacionados com a violência ou programas para grupos sociais e etários mais sensíveis. Os media são uma área, ou poder, ou o que quer que lhe chamemos, cada vez mais penetrante na sociedade. Os problemas ou conflitos precisam de ser geridos, mas com argumentos e raciocínios frios, sem respostas à flor da pele. É que se um jornal e uma entidade reguladora - ambos sendo das entidades mais respeitáveis no país - se envolvem em querelas, quem equilibra ou chama a atenção para o serenar e discutir seriamente os problemas? Certamente que não será o blogueiro cá de casa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Atenção: os membros da ERC têm mandatos de 5 anos - mais do que as legislaturas...-, não são renováveis - escusam de pensar em agradar a quem os nomeou..-e são inamovíveis, ou seja não podem ser demitidos pelo Parlamento. São regras que lhes garantem mais independência do que dispõem alguns que os criticam...