terça-feira, 19 de dezembro de 2006

O QUE VAI ACONTECER PARA O ANO


Já não se fazem balanços do ano, mas prospectiva: o que vai acontecer para o ano? Pelo menos é o que o Guardian fez na sua edição de hoje.


Ora, parece que os jovens que se revêem na série americana The Bachelor, afortunados jovens que encontram depressa o par ideal para casar, vão ter de se voltar para a família e para os conselheiros matrimoniais e pedir ajuda para achar a cara-metade adequada. E parece que os avós vão começar a gastar à tripa-forra em concertos. Até agora, as crianças e os adolescentes enchiam as salas de música; agora estima-se que chegue a vez dos mais velhos com saídas nocturnas regulares e festivaleiras. O futurólogo inquirido pelo Guardian considera que um papel mais activo dos mais velhos pode contribuir para a confusão de papéis e comportamentos adequados a cada idade. Os mais velhos parecerão mais novos e os mais novos parecerão mais velhos. Além de que os avozinhos vão disputar toques de celular como os adolescentes, como o "Für Elise" de Beethoven para um apaixonado de idade madura (www.booseytones.com). Confesso que o meu toque de celular já anda pelas "Gymnopédies" de Eric Satie!

E, depois, estima-se o crescimento de experiências extremas. Já não serão os desportos radicais nem viagens de sonho, mas actividades inolvidáveis como jantar com amigos em mesas e cadeiras 50 metros flutuando acima do solo (ver
www.dinnerinthesky.com). Espero que essa espécie de restaurante móvel se desloque para apreciar novos locais enquanto se degusta. Já sei: aqui em Lisboa, quero começar a jantar no Campo Pequeno, começar a sobremesa junto ao rio e voltar lentamente, após os aperitivos, até perto de casa. Calma: o serviço é ainda modesto - a "sala" é apenas suportada por um guindaste gigante. Sempre se poderá dar uma volta, imaginemos que à praça de touros do Campo Pequeno, bem seguro na sua cadeira. Ao pé disto e em termos de domínio espacial, a montanha russa é uma brincadeira infantil.

Além disso, parece-me que vou ganhar dinheiro, segundo o que dizem esses "prospectivadores". Se este ano foi o ano do "You" (você) na internet, como mostra a capa da mais recente Time e os jornais portugueses se deliciaram a comentar, encontrando mesmo o "You" português, o ano de 2007 vai ser o ano em que o produtor de conteúdos na internet vai começar a cobrar pelo seu trabalho (ver
www.cambrianhouse.com, que paga direitos de autor aos produtores de conteúdos que vendam materiais realizados, ou a www.lego.com, que permite que os visitantes desenhem modelos Lego, colocando-os nas suas galerias de venda). Já não vou fechar o blogue como tenho pensado, agora que o muito trabalho diário me atira a produção das mensagens bloguísticas da manhã bem cedo para a noite bem tarde, mas tornar-me mais criativo, à espera que o dinheiro corra para o meu bolso.

Para quem tem animais, projecta-se uma vastíssima gama de serviços, desde cabeleiras para o seu gato ou um spa para o seu cão ou produtos de luxo para papagaios - sei lá, talvez se incluam também pinguins - ou outras aves domésticas (ver www.puffins.co.uk). E se o animal está com stress nada como um spray de "redução da modificação de comportamento". Imagino já psicólogos e psiquiatras de periquitos e canários a aconselharem repouso absoluto e férias na neve agora pela passagem de ano. Este tema não me absorve muito, porque de animais só possuo fotografias. O último animal que habitou cá em casa, um pobre periquito, morreu de uma longa exposição solar, já lá vão mais de quinze anos.

Da vasta lista de previsões para 2007, há uma que seguirei certamente. De bom tom em 2007 será desligar o telefone enquanto se almoça ou janta e não trabalhar horas extra para responder a emails ou SMS tardios. Nem colocar posts no blogue às 22:36, como este, por exemplo. A qualidade de vida impõe essas regras, agora que toda a gente anda esbaforida a telefonar - até no metro, que era um sítio sossegado até instalarem antenas para ter sinal de rede do celular (e aquelas tonitruantes televisões indoor nas estações).

Mediante estas prospectivas tão cheias de imaginação, talvez mude de profissão e passe a escritor surrealista (pós-surrealista, certamente) ou consultor de novas tendências de consumo, ofícios que quis fazer desde sempre. O futuro - promissor - está garantido.

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