domingo, 15 de abril de 2007

ESPECTÁCULO - 2


Lê-se na promoção da peça: "A Roma antiga do século I a.c. reinventada por Shakespeare. A vida política nas mãos de heróis de tragédia que são grandes como gigantes e humanos como nós. O povo quer coroar Júlio César imperador. Nasce a conspiração. Por boas ou más razões, Cássio e Casca convencem Bruto a unir-se a eles para eliminar César. Bruto que ama César mas também ama Roma, deixa-se convencer, e no dia fatídico dos idos de Março participa no assassinato do grande general no Senado. Marco António, jovem protegido de César, depois de um breve discurso de Bruto junto do cadáver crivado de punhais, pronuncia a sua oração fúnebre e, graças à sua habilidade retórica, levanta as massas populares contra os conjurados que são obrigados a fugir. Marco António, unindo-se a Octávio e Lépido, desencadeia a guerra civil. Na noite anterior à batalha final, o fantasma de César aparece a Bruto e no dia seguinte Cássio e Bruto, vendo-se vencidos, suicidam-se. Octávio e Marco António tomam o poder fazendo justiça à memória de Bruto e reconhecendo nele um justo".

A tirania e as lutas pelo poder, bem como a responsabilidade pública da Roma do século I, podem-se muito bem aplicar à vida de hoje. Por isso, a encenação de Luis Miguel Cintra e os figurinos de Cristina Reis de A tragédia de Júlio César, de William Shakespeare, apostam em duas partes distintas: a primeira em que os patrícios e senadores vestem à época; a segunda, em que as roupas marciais poderiam ser as usadas na época da guerra do Iraque ou da libertação de um povo vivendo uma ditadura. Mas, enquanto a primeira dá conta da união de todos (quase todos) contra o tirano, na segunda as contradições e os conflitos abrem brechas profundas e perenes. À tirania pode suceder um outro regime corrupto, quando há cegueira ou ilusão dos que suportam os novos governantes.

Observação: a segunda parte da peça parece-me muito lenta e confusa. Os jogos de luzes, demarcando as sucessivas peripécias da guerra civil opondo Bruto e Cássio contra Octávio e Marco António, tornam o palco despido, sem alma, despertando sensações mistas e desconfortáveis nos espectadores, alguns deles saindo discretamente, em discordância com a encenação.

Sem comentários: