Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 12 de junho de 2007
A RÁDIO SEGUNDO PAULA CORDEIRO
Estratégias de programação na rádio em Portugal: o caso da RFM na transição para o digital foi o título da tese de doutoramento de Paula Cordeiro, ontem defendida na Universidade Nova de Lisboa. O blogueiro cá de casa foi um dos arguentes do trabalho, tendo aprendido muito com a leitura e discussão da tese. A qual recolheu a nota máxima e sugestão do juri para sua publicação (igualmente de parabéns o orientador, Francisco Rui Cádima). Com o presente trabalho, Paula Cordeiro assume-se como uma das investigadoras portuguesas com mais prestígio no campo da rádio.
O objectivo principal da tese era analisar o contributo da rádio versus os pressupostos económicos. Os objectivos executivos eram: influência da rádio no consumo da música, influência da rádio na elaboração/produção da música, novos cenários tecnológicos da rádio, práticas e rotinas profissionais na rádio.
Quatro partes e seis capítulos em quase 600 páginas mostraram um aparato teórico e um trabalho empírico, assente em metodologia qualitativa (entrevistas e inquéritos) e exibição de um caso prático (a estação de rádio RFM). A nova doutora, e autora do blogue NetFM, que estudou a profunda alteração no mercado e no consumo, dentro de um contexto (pré-) digital, começa o seu texto com uma abordagem às indústrias culturais, o que me agradou muito. David Hesmondhalgh, Bernard Miège, Andy Pratt e Enrique Bustamante foram autores por ela seleccionados e que têm aqui no blogue espaço vital.
Importante foi registar as suas hipóteses teóricas a verificar ou não durante a investigação, nomeadamente a da rádio influenciar o consumo da música, a comparação entre a playlist da RFM e a tabela de discos vendidos, a relação entre a RFM e os concertos ao vivo, a estratégia de marketing para promoção de artistas e concertos e a reciprocidade entre rádio e indústria discográfica. O conceito de cadeia de valor foi usado igualmente pela investigadora do ISCSP.
Paula Cordeiro referiu-se igualmente ao modelo interactivo na rádio proporcionado pela digitalização e à grande concentração da propriedade no caso das emissoras, o que retira possibilidades de inovação, quebra de pluralismo e diversidade. Também destacou a programação - ou o modo como a audiência influencia a sua construção na rádio. Embora tenha salientado o modo como as telenovelas, em especial as da TVI, estão a ter influência na divulgação de autores e músicos, dentro de um tipo musical definido mas que acaba por se reflectir nas escolhas da rádio, a autora assegura que os artistas novos têm muita dificuldade em passar na rádio, só veiculados quando têm sucesso nas vendas.
Quanto à internet, a perspectiva de Paula Cordeiro é a de complementaridade, mais do que diferenciação, na actual presença das rádios na rede.
Eu tinha uma curiosidade após ouvir o modo como a playlist condiciona o papel dos animadores (sem liberdade alguma nas opções musicais da RFM), a de haver semelhante comportamento na Radar, estação que ouço com frequência. Aqui, apesar de haver uma playlist, os animadores têm liberdade de introduzir variações, possibilitando a presença de novos músicos e correntes estéticas.
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1 comentário:
Há de facto aqui muita coisa que vou gostar de discutir com a Paula Cordeiro, pois algumas das coisas que tem aqui escritas neste seu texto sobre a investigação dela, HOJE, a minha investigação está a mostrar coisas ligeiramente diferentes. Talvez também porque o meu modelo de análise da difusão da música portuguesa seja mais alargado, abrangendo 4 tipos de agentes culturais e não só a rádio. O problema de análises sectorias é muita das vezes não se conseguir aferir com rigor as relações complexas estabelecidas no âmbito dos campos organizacionais.
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