domingo, 15 de julho de 2007

A PROFISSÃO DE JORNALISTA


Docentes universitários e jornalistas, Fernando Correia e Carla Baptista apresentam agora o resultado da investigação feita no âmbito do CIMJ em projecto financiado pela FCT. Abarcam o período de 1956, ano da criação do Diário Ilustrado, a 1968, começo do marcelismo, e identificam elementos de mudança como rejuvenescimento das redacções, mais habilitações dos jornalistas, feminização, profissionalização e modernização tecnológica.

Considerando a censura como factor de bloqueio do jornalismo, os autores encontram sinais de transformação em finais da década de 50, devidos essencialmente aos vespertinos – Diário Ilustrado (1956), Diário Popular (1942), Diário de Lisboa (1921) e A Capital (1968). O Diário Ilustrado apostou em jornalistas jovens, assinando muitas reportagens, e em repórteres fotográficos, enquanto a impressão se realizava na rotativa de outro jornal. No Diário Popular, Pinto Balsemão introduziu iniciativas como reuniões diárias com os editores, recurso a especialistas e rede de correspondentes no estrangeiro. A realização de curso para candidatos a jornalistas (1966) levou à entrada, entre outros, de Fernando Correia, um dos autores deste livro. O Diário de Lisboa foi o primeiro jornal a passar da tipografia em chumbo para a composição e impressão offset, em Outubro de 1971. Isto causou uma crise no seu interior, levando à demissão de vários jornalistas e do seu director. Por seu lado, A Capital, assente numa estrutura financeira débil constituída por redactores que eram pequenos accionistas, admitiu muitos jornalistas na fase final do período estudado.

O livro combina história, economia e política das organizações jornalísticas e sua relação com a sociedade, e atende a aspectos como os suplementos, casos de “A Mosca”, do Diário de Lisboa, editado a partir de Abril de 1969, e “Cena Sete”, do Diário Popular, com informação sobre rock, jazz e música de intervenção. Mas também tecnologias: se o Diário Ilustrado forneceu máquinas de escrever a toda a redacção, telefone, telex e gravadores de som trariam igual modernidade à profissão. A mudança tecnológica mais profunda foi a introdução do offset a nível da impressão, com repercussões na paginação e no processo de produção, o que provocou uma crise no Diário de Lisboa, o primeiro jornal a adquirir a tecnologia.

Quanto a exigências em habilitações literárias, assinale-se que, no contrato de 1966, os candidatos a jornalistas ingressavam na carreira com o mínimo do 2º ciclo liceal, subindo para o 3º ciclo no contrato de 1971. Neste novo contrato, proibia-se acumular o jornalismo com outras actividades. Era ainda a época em se organizava a comissão para elaborar o código deontológico da profissão e o sindicato promovia um curso de formação, o qual poderia suportar um futuro instituto superior de informação (1968), mas caberia à Escola Superior de Meios de Comunicação Social avançar com cursos sobre jornalismo e media.

Leitura: Fernando Correia e Carla Baptista (2007). Jornalistas: do ofício à profissão. Lisboa: Caminho, 461 páginas

[Texto publicado no Monde Diplomatique (edição portuguesa), de Julho de 2007 (nº 21)]


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