Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 16 de julho de 2007
CULTURA VISUAL EM ELLA SHOHAT E ROBERT STAM
Para Ella Shohat e Robert Stam (2002), a cultura visual quebra o eurocentrismo da arte, que tem privilegiado certos locais e geografias, e para quem a realismo, o modernismo e o pós-modernismo se encadeiam numa sucessão linear.
A história da arte e da cultura visual que nos ensinam centra a sua existência nas grandes metrópoles, como Paris, Londres, Nova Iorque e Zurique. Mas Shohat e Stam defendem a originalidade de outras culturas visuais, muitas vezes designadas como arte primitiva e folclore, e que os europeus modernizariam e trariam para o centro do mundo. Há aquilo a que se poderia chamar de heterogeneidade ou hibridismo cultural (Nestor García Canclini) ou plural caótico e contaditório (Shohat e Stam, 2002: 39). O que é válido para a pintura e escultura também é válido para a literatura ou o cinema. O objectivo final dos autores é, pois, destacar os contributos das culturas europeias e insistir na interligação entre artes na Europa e fora dela.
A sequência realismo, modernidade e pós-modernidade pode coexistir globalmente, apesar do poder dominante variar de região para região, conferindo diversas trajectórias, ritmos e temporalidades históricas e culturais. Mas também pode contestar-se a sequência. Por exemplo, as formas do realismo dramático são substituídas por modos do carnavalesco, do antropofágico, do realismo mágico, do modernismo reflexivo, estéticas enraizadas em tradições não realistas. O modernismo artístico é tradicionalmente definido por oposição ao realismo enquanto norma dominante de representação. Contudo, fora do Ocidente, o realismo raramente é dominante; nesse sentido, o modernismo pode ser visto como rebelião local.
Shohat e Stam (2002) chamam a atenção para dois elementos. O primeiro é o carnavalesco que, na cultura ocidental, é apresentado como ruptura radical face ao passado. Isto embora o carnaval ter deixado de ser uma prática colectiva de purificação e tornar-se uma mera prática artística. O segundo é aquilo a que chamam estética do lixo (ou do feio, inacabado ou desagradável).
A cultura, conclui o casal Shohat e Stam, está contaminada por outros textos, discursos e aparatos: museus, academia, mundo da arte, indústria editorial.
Leitura: Ella Shoat e Robert Slam (2002). “Narrativizing visual culture. Towards a polycentric aesthetics”. In Nicholas Mirzoeff (ed.) The visual culture reader. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 37-59
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