domingo, 5 de agosto de 2007

A ILUSTRAÇÃO EM JUAN MARTÍNEZ


[texto a partir do livro de Juan Martínez]

Com a invenção dos tipos móveis por Johannes G. Gutenberg (1397-1468) - e com eles a indústria editorial - começa o declínio do império do "livro dos livros". O lugar para o livro já não é o recôndito mosteiro ou a abadia medieval, nem as poderosas universidades pertencentes ao clero, em cujos mercados o papel passa a ser mais um produto de troca. Além disso, o livro impresso torna-se no meio que configura formalmente, através de texto e imagem, o conhecimento humano. O homem moderno afigura-se como leitor. O livro é discurso narrativo, sequência organizada, esquema e estrutura organizada do conhecimento. No seu conjunto, o mundo editorial define-se pela multiplicidade e renovação.

A partir do século XV, e sobretudo do XVI e XVII, o horizonte europeu dilatou-se graças aos descobrimentos geográficos mas, principalmente, através da edição de livros. A imprensa teve um especial efeito estimulante sobre as faculdades imaginativas e inventivas.

O desenvolvimento da imprensa moderna e o êxito e expansão da Reforma Luterana na Europa do século XV são dois fenómenos intimamente ligados. Os herejes eram conhecidos como comunidades textuais. A participação da imprensa na revolução reformista contribuíu para liquidar o monopólio que ostentava o clero sobre a produção e transmissão de todo o tipo de conhecimento. O surgimento posterior do Index como ferramenta inquisitorial evidencia o problema que a expansão do livro tinha para o poder religioso de então.

Mais importante ainda era o uso da imagem impressa como meio de propaganda. O património visual do Ocidente cresceu exponencialmente a partir da invenção da imprensa. Em alguns campos do conhecimento como a arquitectura, a geometria, a geografia e as ciências biológicas, a cultura da estampa cumpriu um papel essencial.

A função mais sensível e eficaz que cumpre a ilustração gráfica no livro é a descritiva. Há a consolidação de um novo padrão visual de aproximação ao mundo. A relação entre arte e ciência sobreviveria no terreno específico da ilustração gráfica, dado que a ciência se serviu dos recursos oferecidos pelas artes gráficas. Os grandes tratados de arquitectura passaram a ser modelo para a edição de livros ilustrados durante todo o Renascimento, caso de Leon Battista Alberti com o seu De re aedificatoria (1452).

O trabalho descritivo baseia-se na observação visual centrada no: 1) tangível, próximo e imediato, 2) desconhecido, inalcançável e oculto. Em termos gerais, e a partir do Renascimento, produz-se uma ampliação do horizonte visual em todas as suas dimensões.

O desenvolvimento da óptica com a construção de lentes macroscópicas e microcóspicas terá um protagonismo chave na superação das fronteiras perceptivas. A nova ferramenta óptica tem no século XVI o começo do seu desenvolvimento e no século XVII o momento do seu máximo esplendor e integração plena na cultura visual da época.


[continua]

Leitura: Juan Martínez Moro (2004). La ilustración como categoría. Una teoría unificada sobre arte y conocimiento. Gijón: Ediciones Trea, pp. 107-116

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