segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A ILUSTRAÇÃO EM JUAN MARTÍNEZ (II)


[texto a partir do livro de Juan Martínez]

Autores como Omar Calabrese falam da influência exercida sobre o sistema cultural contemporâneo por noções científicas como teorias da catástrofe, fractais, teorias da complexidade e caos. A arte contemporânea adquire uma dinâmica de cariz barroco, estabelecendo-se um paralelismo entre a situação presente e a pluralidade dos mundos do século XVII, como consequência dos descobrimentos geográficos, científicos e perceptivos.

O princípio essencial do método surrealista põe em crise o significado das coisas tal como aparecem ou como se entendem sob o critério do sentido comum. O surrealismo atende a realidades como criações da mente na ausência de actividade consciente, situações paradoxais, alucinação e loucura.

Desde os anos 60, a actividade gráfica transformou os parâmetros espacio-temporais,aderindo aos mais diversos objectos em virtude de uma versatilidade inédita na escala e na sua adaptação a todo o tipo de suportes [imagem retirada do sítio de Juan Moro].

Nos últimos 500 anos de cultura ocidental produziu-se um crescimento exponencial no peso que adquiriu a imagem de reprodução gráfica, até atingir, no nosso tempo, o dos meios de comunicação de massa, o domínio da imagem mediática
. Estamos na época de obra de arte da reprodução (Walter Benjamin).

A arte do século XX fez a contínua revisão crítica das formas de percepção, representação, recepção de e sobre a imagem, experimentação exaustiva dos materiais, suportes, procedimentos e métodos geradores de produtos artísticos. Há a busca generalizada de novas formas de expressão, baseadas na novidade e idiossincrasia temática ou ideológica, iconográfica ou simbólica, estatística e física da imagem. Face ao império de um único sistema de representação dominante, que desde o Renascimento esteve assente nas perspectivas cónica e aérea, assim como no naturalismo do claro-escuro, a explosão morfológica e idiomática que começa no século XIX encontra a sua plenitude nas vanguardas da primeira metade do século XX. Assim, apresenta-se-nos como uma excepção e quase uma singularidade evolutiva.

Desde os anos 1960 com a arte pop e as tendências conceptuais foi-se derivando pouco a pouco para um tipo de obra em que iria dominar cada vez mais a utilização, de forma directa e indirecta, de meios mecanizados de reprodução e elaboração da imagem. Esta vê-se mais bidimensional e desmaterializada que nunca.

Com a criação digital nasce o conceito central de interface, de vínculos interligados ou interactivos. Mas a criação digital entronca estruturalmente nos sistemas gráficos históricos e bebe a tradição do pensamento e do conhecimento através de diagramas e esquemas, jogos visuais, labirintos e hieróglifos.

Nas artes plásticas produziu-se, de forma progressiva, uma passagem do objectual, que actuava directamente em e sobre o papel e a tela, ao visual, mediante um processo de desmaterialização da imagem que, começando com a fotografia e meios de reprodução gráfica como a serigrafia, se consumou na arte digital. O fenómeno de desmaterialização é a consequência lógica do crescente domínio dos meios de comunicação.

A imagem gráfica, sendo teoricamente uma, possui uma natureza dupla e diacrónica, pois pode ter uma multiplicidade e mutação quase infinita a partir de um original: repetição, redundância, variação, fragmentação, deformação, descontextualização, interferência, intervenção e instalação. A nova imagem mediatizada converte-se numa parte discreta de material plástico, codificado em cada caso, formando parte do património pessoal, colectivo ou universal para seu uso consciente ou aleatório.


Leitura: Juan Martínez Moro (2004). La ilustración como categoría. Una teoría unificada sobre arte y conocimiento. Gijón: Ediciones Trea, pp. 174- 187

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