terça-feira, 7 de agosto de 2007

OS JOVENS E AS NOTÍCIAS


Retiro a seguinte informação do relatório do Joan Shorenstein Center sobre imprensa, política e políticas públicas, dirigido pelo professor Thomas E. Patterson (Universidade de Harvard) e publicado o mês passado (pode ser lido em aqui).

O relatório, assente num inquérito nacional de 1800 entrevistas a adolescentes e adultos jovens e mais velhos, procurou saber os consumos de notícias diárias por parte dos jovens. A conclusão a que se chegou indica que os jovens lêem menos os jornais e obtêm mais informação através da televisão e da internet.

Algumas décadas atrás não havia grandes diferenças em termos de hábitos de notícias entre jovens e mais velhos, mas hoje os mais novos não fazem da leitura diária uma rotina. Se há analistas que indicam que os mais jovens dedicam menos tempo às notícias, outros consideram que a revolução digital os está a trazer de volta. Outros ainda indicam que a internet leva os jovens a muitas outras coisas que não as notícias. O desacordo estende-se à definição do que é notícia: será que o conceito desta inclui os programas de “infotainment” e os que se relacionam com estilos de vida, crime e celebridades?

Sabe-se bem que a leitura de jornais tem descido abruptamente nos anos mais recentes. O que ilustra que o jornal não faz parte dos hábitos do jovem americano. Enquanto 35% dos respondentes acima dos 30 anos lêem jornais todos os dias, apenas 16% dos respondentes com idades compreendidas entre os 18 e os 30 dizem ler notícias todos os dias e apenas 9% dos com idades compreendidas entre 12 e 17 anos. Isto é, metade dos adolescentes raramente lê jornais diários.

Por outro lado, os noticiários de televisão (nacional e regional) perderam audiências na década passada. Perto de 60% dos respondentes mais velhos indicam ver diariamente notícias na televisão, número que baixa para 30% nos adolescentes e jovens adultos. A rádio, que teve um renascimento nas décadas passadas, em parte devido ao tempo gasto na condução de automóveis, apresenta um terço de ouvintes de entre os respondentes. Mas a audição de notícias na rádio é mais baixa que na televisão. E a escuta radiofónica é uma actividade menos activa que a leitura do jornal ou o acompanhamento do noticiário televisivo.

Já a exposição às notícias na internet está a crescer. Um quinto dos respondentes disseram seguir as notícias através da internet numa base diária. Mas há diferenças quando se fala de grupos etários. Entre os mais velhos, 55% lêem as notícias na internet, número que baixa para 46% entre os jovens adultos e 32% entre os adolescentes.

O relatório, com 35 páginas, traz uma conclusão perdida no seu interior e que me parece justo salientar aqui. Não é tão importante saber se o jornal de papel vai desaparecer e a internet ocupar o seu território como saber se o consumo de notícias irá reduzir com as gerações mais novas, atraídas por outros interesses. É que conhecer as notícias significa melhor cidadania, traduzível em espírito crítico e melhor democracia. O texto não é tão explícito como estas minhas palavras mas apreende-se o sentido.

Utilizadores das notícias

Um em cinco de adultos mais velhos tem necessidade de informação dada por jornais, mas apenas um em doze jovens adultos tem a mesma necessidade. O quadro é levemente mais brilhante no caso da televisão: um em seis jovens adultos vê notícias na televisão, com igual proporção nos adolescentes. Ouvir notícias pela rádio significa uma audiência regular mais pequena que a televisão.

As notícias da rádio e da internet conseguem ter mais atenção que as dos jornais, mas mesmo nestes casos muitos adolescentes e adultos jovens evitam-nas. Dois em cinco jovens têm pouco interesse nas notícias locais e nacionais fornecidas pela televisão. Mas o que causa mais impacto saber é que os jovens americanos dedicam pouca atenção aos jornais, apesar dos outros media despertarem igualmente pouco interesse.

Um indicador procurado pelo inquérito foi saber se os respondentes se lembravam das notícias de topo do dia anterior. Quase metade não se recordava da principal história do dia anterior. E apenas raramente uma notícia atingia toda a população, como aconteceu com os acontecimentos trágicos do 11 de Setembro de 2001. E o nível etário também conta: os mais velhos lembram-se mais da história do dia anterior (62%) que os mais novos (43%), com os adolescentes no fundo da tabela (10%). Os mais novos são ainda os que têm mais dificuldades em identificar o elemento factual de cada história.

Nos anos 40, havia uma espécie de sobreposição das audiências noticiosas. As pessoas interessavam-se pelas notícias e não pelo meio que as veiculava. A diferença residia em que os mais velhos viam mais noticiários televisivos que os mais novos. Os estudos dos anos 60 e 70 encontram o mesmo modelo mas com uma alteração. Passa a haver um peso maior da televisão do que da imprensa. Ver televisão é um modo mais desatento de seguir as histórias. Além de que as notícias chegam à hora do jantar. A televisão passaria a ser um ritual, que inclui as crianças. Quando as crianças acabam a escola, muitas adquirem hábitos próprios de ver televisão, afastando-se desse ritual. A capacidade de gerar interesse pelas notícias da televisão generalista acaba nos anos 80, com o crescimento da televisão por cabo. Os espectadores já não precisam de ver as notícias à espera que chegue o programa de entretenimento.

A internet veio alterar ainda mais os hábitos, ao criar hábitos diários individuais. Cada utilizador serve-se da internet de acordo com os seus interesses muito pessoais. E a internet não é particularmente poderosa na fomentação de hábitos de leitura das notícias. O utilizador da internet gasta menos tempo que o leitor de jornais ou o espectador de televisão na procura de notícias. Claro que a internet, com o uso de imagens e texto e a sua versatilidade, poderá determinar o regresso da leitura das notícias: é que fornece um meio de comunicação em dois sentidos, o que os media mais velhos eram incapazes de fazer.



[pequenos vídeos realizados aquando da apresentação, no ISCTE, do número 8 da revista Trajectos, com os conceituados jornalistas Diana Andringa e Adelino Gomes como comentadores, em 19 de Outubro de 2006]

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