sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O CINEMA EM ANATOL ROSENFELD

Anatol H. Rosenfeld (1912-1973), de origem alemã, fugido ao nazismo em 1936, deixou um importante legado como filósofo, crítico e teórico em São Paulo desde os anos 1940 (ficando nessa cidade brasileira até morrer).

Segundo o sítio Enciclopédia Itaú Cultural, não há registos sobre a sua procedência exacta, mas sabe-se que estudou filosofia, letras e história na Universidade de Berlim, entre 1930 e 1934. Radica-se no Brasil e enquanto aprende a nova língua, é lavrador e caixeiro viajante. Já em São Paulo, nos primeiros anos da década de 50, passa a freqüentar reuniões das colônias judaica e alemã, através das quais se aproxima do mundo intelectual. Torna-se jornalista e redator da Crônica Israelita, jornal quinzenal da Congregação Israelita Paulista, e correspondente de um jornal suíço de língua alemã. Dirige, para a editora Herder, a coleção O Pensamento Estético, vertendo dos originais alemães para o português importantes títulos, especialmente ligados aos períodos clássico e romântico. Sobrevive por meio de aulas particulares e, tendo aprendido a exprimir-se com desenvoltura e elegância em português, embrenha-se pelos caminhos da cultura brasileira. Colabora para o jornal do Han Staden Institute, escrevendo sobre literatura brasileira. Em 1956, indicado por Antônio Cândido, passa a dirigir a seção Letras Alemãs, do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, espaço onde divulgará autores germânicos de todas as épocas. No início dos anos 60 passa a dar aulas na Escola de Arte Dramática, EAD, ocasião em que estreita vínculos com a atividade teatral, distinguindo-se pelos contatos com os artistas ligados aos espetáculos, antes ou depois das estréias, ocasiões em que o diálogo serve de suporte para longas e minuciosas análises. Em 1964 inicia a publicação de críticas teatrais, como colaborador, em diversos órgãos de imprensa.

Do trabalho enquanto crítico, o mais saliente é o que desenvolve para o cinema. Vindo de um país onde o cinema era uma importante indústria (Alemanha), é convidado a colaborar na revista Íris em 1947. O texto que dá nome ao livro de recolha de ensaios sobre o cinema em Rosenfeld, Cinema: Arte & Indústria, é de 1951, tendo sido o primeiro trabalho no Brasil a falar do livro de Horkheimer e Adorno (Dialética do Esclarecimento). Escrevem Nanci Fernandes e Arthur Autran na introdução ao livro de Rosenfeld que a reflexão deste sobre o cinema ocorria num momento de grande desenvolvimento das indústrias culturais em São Paulo (fotografia, indústria fonográfica, renovação e modernização das artes em geral, como a literatura, as artes plásticas, o teatro e a música, a televisão e, em 1949, a criação da Vera Cruz e de outras empresas ligadas ao cinema) (Rosenfeld, 2002: 22).

Nos textos que compõem o volume, Anatol Rosenfeld olha o cinema numa perspectiva sociológica mas igualmente económica, estuda a transição do cinema mudo para o sonoro e a música no sonoro. Dedica um capítulo ao cinema escandinavo, em especial Carl-Theodor Dreyer, e ao cinema americano. Mas os textos mais elaborados teoricamente são o que dá o nome ao livro e "Notas sobre a arte do cinema".

Escreveria Rosenfeld:
  • uma história do cinema deve tomar em consideração que o seu objecto é, essencialmente, uma Indústria do Entretenimento, que também faz uso de meios estéticos para obter determinados efeitos e para satisfazer um grande mercado de consumidores, sem visar, todavia, na maioria dos casos, à criação de obras de arte. Seria, portanto, absurdo e infantil condenar os industriais do cinema por criarem raramente uma obra de arte. Uma produção cinematográfica aproveitável de filmes de ficção é impossível sem organização industrial e sem o investimento de consideráveis capitais (p. 35).

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