segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O LIVRO E OS NOVOS DESAFIOS: CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL E DIGITALIZAÇÃO


Gloria Gómez-Escalonilla escreveu sobre políticas do livro (2007), partindo dos seguintes tópicos: 1) desenvolvimento da edição ligado ao sector privado, mas com apoio das entidades públicas, 2) desequilíbrio regional, nacional e de comunidade de países, com necessidade da excepcionalidade cultural, 3) altos índices de concentração empresarial e multinacional que prejudicam a pluralidade e diversidade nacionais e culturais.

No seu texto, Gómez-Escalonilla analisa a situação actual da indústria editorial (diversidade cultural, indústria e internet), as políticas culturais que afectam o livro (em especial o caso espanhol) e medidas concretas para corrigir os efeitos negativos do mercado.

A autora realça o livro impresso sob a dinâmica do best-seller, favorecida pela concentração empresarial no sector editorial. Esse maior peso dos grandes grupos editoriais implica selecção de obras, pois o critério cultural faz-se preceder de expectativas de vendas. Os livros vendem-se menos nas livrarias de bairro e mais em cadeias de livrarias e nas grandes superfícies que, por estratégia comercial, limitam os livros expostos aos best-sellers. A concentração nos mais vendidos prejudica livros e autores que vendem menos. Há muitos livros que não chegam às livrarias, idos directamente da impressão para os armazéns. Tal paradoxo, de fabricar livros para os não vender, é efeito da superprodução de títulos, estratégia de técnica de mercado que permite jogar com os efeitos novidade e catálogo. Esta dinâmica está a contribuir para uma mudança nas motivações da actividade leitora: se o objectivo principal da leitura era a instrução e o conhecimento, agora transforma-se em leitura de evasão e ócio.

Um outro elemento analisado por Gloria Gómez-Escalonilla respeita as mudanças no sector com a revolução digital, em que a primeira é a trazida pela internet para o mundo editorial: servir como novo canal de venda de livros. Diferentemente das livrarias virtuais, as editoras on-line são iniciativas sem vínculo ao sector tradicional. Mas a incerteza que existe em torno da digitalização, dado que a rede premeia a cultura da gratuitidade e da acessibilidade aos conteúdos, torna pouco rentável a venda dos livros virtuais. O medo da pirataria digital impede o desenvolvimento do mercado e da modalidade da edição on-line.

A investigadora deteve-se ainda nos principais desafios a enfrentar: direitos do autor, índices de leitura, preço fixo, livro digital, fomento da leitura (com difusão e acesso ao livro na biblioteca), dotação de fundos e criação de bibliotecas digitais, trabalhos sobre hábitos de leitura e campanhas de comunicação e publicitárias permanentes. Igualmente, defendeu a necessidade de apoio às PME que concorrem com os grandes grupos como garante da edição de textos minoritários e especializados. Se a edição de livros na internet chega a representar uma redução do custo em 30% (10% na distribuição e transporte, 20% de gestão e armazenamento), o reconhecimento do livro digital significará uma definição do livro face à realidade do livro multi-suporte, com implicações fiscais: em termos de IVA, o livro é taxado a 4% e o suporte digital a 21%.

Pontos fortes do texto: avalia o impacto do livro na sociedade e perante alterações tais como a concentração empresarial (produção e distribuição) e a digitalização e a internet.

Pontos fracos do texto: apresenta soluções muito estatistas no apoio às PME, quando no início do artigo ela referencia o sector, no seu todo, como estando economicamente muito forte; há autores que passam o umbral do desconhecimento e tornam-se muito vendidos, sem que o texto reflicta nesse fenómeno.

Leitura: Gloria Gómez-Escalonilla (2007). "Políticas del libro. Análisis y propuestas". Em J. M. Álvarez Monzoncillo, J. C. Calvi, C. Gay, G. Gómez-Escalonilla e J. López Villanueva Alternativas de política cultural. Las industrias culturales en las redes digitales (disco, cine, libro, derechos de autor). Barcelona: Gedisa

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