Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
REFLEXÕES EM TORNO DA REVISTA NOTÍCIAS TV, QUE SAI À SEXTA
1. Não gosto. Trata de fofocas das pequenas celebridades do nosso universo televisivo, tipo José Castelo Branco, Sónia Araújo, Jessica Athayde (apresentada com ex-moranguita) ou Joana Solnado.
2. Mas compreendo que é um muito bom produto. Ao ser vendida conjuntamente com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, aproxima-se dos 150 mil exemplares, o que bate a concorrência de revistas dedicadas à televisão, tipo Caras ou Lux. E sem custo acrescido, pois está incluído no preço do jornal. A outra grande razão vem abaixo, no ponto 4.
3. Comparo a revista Notícias TV com o caderno Ípsilon, do Público. Há, nas duas publicações, públicos-alvo distintos a atingir. O Ípsilon (que resultou da fusão de dois cadernos, está a fazer um ano, o Y e o Mil Folhas) tem a marca da geração Y. Por oposição, a Notícias TV atinge fundamentalmente a geração baby boomer. Passo a explicar. A geração Y representa a geração nascida entre 1976 e 2000, opondo-se às anteriores gerações, a X, nascida entre 1962 e 1975, e a dos baby-boomers, após a Segunda Guerra Mundial, nascida entre 1945 e 1961. A geração Y é filha da geração baby-boomer, agora em lento desaparecimento do mercado de trabalho (reforma), dando lugar à geração X. A geração baby boomer vista pela geração Y é nomeada como a dos pais de helicóptero, expressão pejorativa dos que consomem muita televisão ou estão dentro dela (retirei a expressão da wikipédia). Começa, entretanto, a falar-se de uma nova geração, nascida a partir de meados da década passada, apelidada de novo silêncio (a do iPod e que está a entrar no secundário). Na terminologia do OberCom, que tem trabalhado a recepção dos media segundo gerações, à geração iniciática (a nascida no começo dos anos 1950, quando a televisão arrancava na Europa, também chamada paleotelevisão) opõe-se a geração multimedia (a mais recente, da idade dos computadores, filha daquela), ficando no meio a geração intermédia (a da neotelevisão). Isto é: termos diferentes para nomear as mesmas gerações.
4. Posso ver o assunto de maneira mais simples: o caderno do Público orienta-se para um público urbano, jovem, consumidor de media mas também forte consumidor de outros bens culturais - as indústrias culturais e criativas no seu conjunto; o caderno Notícias tem por alvo um público mais velho e geral, em que os consumos de media estão centralizados na televisão. Ora, este é substancialmente maioritário nas cidades onde os jornais do grupo Controlinvest actuam (os Notícias de Lisboa e do Porto), logo há um enorme mercado a manter e conquistar.
5. Apesar de eu não gostar no geral, o Notícias TV tem coisas importantes e sérias: a interpretação das audiências de televisão, por exemplo. Nuno Azinheira é dos jornalistas que melhor interpreta os consumos de televisão; logo, são páginas que devem ser consultadas, pela informação que mostra e analisa (e que me lembra as páginas de um Diário de Notícias que começa a ficar longínquo, em que Azinheira fazia par com Miguel Gaspar, a meu ver uma dupla de génio). Esta semana, as páginas 74 e 75 são imperdíveis. Por exemplo: 1) minuto de ouro: o jogo de futebol em que interveio o Benfica, 2) minuto de lata: o serviço Euronews, 3) grande entrevista com a espécie de Robin dos Bosques que é o bastonário da Ordem dos Advogados, em que os telespectadores eram basicamente do interior do país, classe baixa e com mais de 55 anos.
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