Sempre que Rogério sai de casa, esquece-se de alguma coisa. Quando se lembra, já é tarde demais.
E o que é que Rogério faz? Absolutamente nada. Só pensa: "Ainda bem que tenho o João".
O João é o seu melhor amigo, um amigo a sério, um amigo com quem se pode contar.
O Rogério sabe muito bem o que é um amigo com quem se pode contar. Sempre que ele se esquece de alguma coisa, é o João que o livra de apuros. O Rogério vai para a escola sem sapatilhas.
– Logo vi que ias esquecer-te! – diz o João, tirando um par de meias grossas do saco de ginástica, que entrega ao Rogério.
O Rogério chega ao parque sem bola.
– Logo vi que ias esquecer-te!
O João tem escondida atrás das costas a sua própria bola, que lhe estende.
O Rogério vai com o João à feira popular e não leva dinheiro na carteira.
– Logo vi que ias esquecer-te! – E como não se pode andar no carrossel sem pagar, o João tira uma moeda do bolso.
E é assim dia após dia: o Rogério esquece-se sempre de alguma coisa, o João, nunca… ou será que não?
Não. O João esquece-se sempre dos lápis de cera. Não adianta esforçar-se por fazer a pasta a tempo e horas. Quando chega a aula de desenho, o João não tem os lápis de cera na pasta. O Rogério sabe que o João se esquece sempre deles, e por isso ele, Rogério, pode esquecer-se de tudo o que há no mundo, só não se esquece dos lápis de cera.
Estão na aula de desenho. O Rogério tira os seus lápis da pasta e põe-nos em cima da carteira. O João volta a ficar corado de vergonha porque deixou os lápis em casa, no quarto. Então, o Rogério sorri e tira da pasta outra caixinha de lápis de cera, que pousa em cima da carteira do João.
– Logo vi que ias esquecer-te! – diz ele a sorrir.
De Lene Mayer-Skumanz (org.) *Hoffentlich bald* Wien, Herder Verlag, 1986 (texto adaptado). Retirado do sítio Clube de Contadores de Histórias, nascido na Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico Daniel Faria – Baltar. Sítio a espreitar [já não disponível; procurar em Histórias em Português].
7 comentários:
Melancolia...
Muita nostalgia por estas bandas. Da infância, dos amigos do peito, das historias de amizade...
Estamos quase na Primavera. Nos livrinhos de historias dos meus filhos havia um, de capa verde limao, das estaçoes. A Primavera é o tempo a crescer...
Por que sera que a amizade bonita como esta tem de ficar naquele tempo, e nos de a visitarmos nos dias em que precisamos de um amigo como o Rogério? Sim porque eu (também) queria ser o Joao e ter um amigo Rogério.
"CLUBE DE CONTADORES DE HISTÓRIAS"
e do muito que se pode fazer com livros:
(...) Com o que pode parecer tique geracional, ou teoria de
validade excessivamente privada, nesta cidade apetece
viver à volta de livros: da leitura de livros, da compra
de livros, da consulta às bibliotecas (logo pela manhã),
da escrita de livros (dos seus esboços, notas, hipóteses
de títulos), da visita às livrarias, da troca de livros…
e há profissões que apetece ter, como leitor ao domicílio
(como as antigas liseuses, que até criaram a moda de
um afago para os ombros nas horas de leitura), editor,
crítico (sim, apesar da crise da legitimação), autor de
um programa de televisão ou de rádio (pela manhã e
entendível), bibliófilo, revisor de provas... é tanto o que
se pode fazer com livros e muito o que os livros podem
fazer por nós. (...)
António Pinto Ribeiro, a face oculta, notas de viagem, in OBSCENA 10, Março 2008.
"Um chá raro, lapidado por quem sabe".
Nao é rara mas sempre singular a vontade de calar a boca. E eu crédula pensava ter achado um "bem haja do coração". Não, não há. Todavia, é sempre um prazer acrescentar + 1 à lista dos que gostam de poesia com chá. Elas são boas leitoras e nós escrevemos os livros. Às vezes, em dias melancólicos, esforçamo-nos : on laisse le trou ouvert. Mais c’est un piège.
Quelle (m)Alice!
Oh la peur cette bête qui nous poursuit, nous fait devenir fous. On se cache, on se déguise, mais il n'y a rien à faire elle nous attrape toujours. Et toi, tu as peur de quoi?
Moi je ne mors pas, je t'ai juste découvert, j'ai aimé ta simplicité si rare de nos jours. Et toi tu as peur des gens, qu'on te regarde, qu'on te dise que tu donnes de la place à des " folles" et tu as peur de pedre ta crédibilité.
Tu es comme tout le monde, ne t'affole pas, je ne te veux pas de mal et en plus je te comprends. Je pense au Président Nicolas qui est en train de refaire son image... après le " casse toi pauvre con! "C'est dans l'ordre des choses. On veut garder sa place. Il n'y pas pas de place pour ceux qui la font aux "pauvres cons", ou d' autres pareilles. Il suffit d'être pauvre... et si on est pauvre on est con et on est fouttu!
Ce qui est bien c'est qu'on a même prévu de les garder la peine accomplie...
"C'est un monde de fous", Shakespear
"Um chá raro, lapidado por quem sabe"
Senhor Professor,
A poesia nunca vendeu coisa alguma, nem sequer ela mesma se vende. Resulta daqui que a publicidade está mal feita e a sua interpretação tem sentido, ou o contrario.
Para mim, está mal feita e não é poesia. O que esta mal feito não tem funçao. Se nao vejamos. O Senhor põe sem destaque as associações pirâmide, diamante, precioso, ervas, algas, agua. Esta feito o chá! Em seguida fala do que la nao está que, como sabe, é projecção sua.
O Anúncio é um « pot-pourri" " - mau chá - feito de lugares comuns: Oh, le Louvre, je connais, donc je suis inteligent cosmopolite. Point final.
Et le thé?
Les gens l'apprécient de moins en moins. Alors on se régale de ces belles images qui nous reflètent..
Est-ce que je vais l'acheter ce fameux thé ? Non. Le thé des vrais connaisseurs ne se regarde pas, il sent bon, il aura toujours une belle couleur dans ma tasse de thé!
Elle est comment votre tasse de thé?
le thé...
et en plus, vous savez, les vraies aimantes de thé se refusent à boire du thé en sachets. Elles l'achètent dans des boutiques pleines de belles boites que la vendeuse ouvre pour leur faire sentir et elles discutent de sa provenance, parfum, les petites feuilles, les grandes feuilles, un thé de printemps, de première récolte, un thé fermenté...
Elles l'achètent en vrac, elles sortent avec leurs petits paquets fières de leur choix, en courant, pressées de le savourer
en bonne compagnie...
« …tranquilidade e agrado de estar onde se está »
Em dia de aniversario
estamos, naturalmente, para os amigos:
Parabéns, IC !
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