Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 13 de março de 2008
PROGRAMAS
Acompanho com muito interesse produtos mediáticos como programas de humor na rádio e cartunes enquanto meios que reflectem a realidade quotidiana. Estou a pensar no Bartoon (Público) ou no Portugalex (Antena 1).
Ambos os produtos mantêm uma relação próxima com os acontecimentos sociais e políticos, o primeiro menos identificado com personalidades e o segundo mais perto delas, o primeiro como uma representação em esboço e o segundo recorrendo à imitação das vozes, o primeiro mais abstracto e o segundo mais estruturante (na explicação dos factos), ambos ocupando pouco espaço/tempo às respectivas audiências mas apelando à inteligência de leitores e ouvintes.
A produção diária, como acontece a esses dois produtos, levanta desafios tais como estar atento à actualidade, transformar episódios insípidos em motivos de humor, realçar assuntos que quase morrem à nascença, ter perspicácia e ser mordaz. Além disso, há elementos como rapidez de intervenção e necessidade de tornar claras as curtas mensagens, assim como o possível desgaste em actividade tão criativa. Isto porque não há dias em que se escreva: hoje não há programa ou cartune por desinspiração do autor/artista.
Aqui, chego a outra ideia: o cartunista do Público, Luís Afonso, usa traços simples, diria repetíveis dia a dia. A forma é menos importante que o conteúdo - a mensagem escrita. Mas, no fim de contas, a forma é relevante - pois há um pequeno conjunto de personagens que aparecem frequentemente, para além do homem do bar: o americano que defende a guerra do Iraque, a jovem ingénua, o homem cansado por um dia de trabalho, profissionais identificados quando o tema envolve uma profissão determinada. Apesar da simplicidade e da repetição de formas, os cartunes são vivos, frescos, de um humor fino - do humor que compreendemos dois segundos depois de lermos o texto. Diria: um humor soluçado.
Luís Afonso vive colado à realidade, como acima escrevi, mas o Portugalex vive ainda mais aliado ao quotidiano, dentro de um formato já desenvolvido no audiovisual, em especial a televisão: o noticiário. O programa Contra-Informação vive desse formato, adaptando maioritariamente as personalidades políticas e desportivas mais mediáticas. A meu ver é na assunção do formato (noticiário) que o Portugalex tem vindo a perder vivacidade, tal a repetição de formas, no que é um modo diferente do cartune. O programa antecessor - Palmilha Dentada, que aqui critiquei uma vez - havia enveredado por um caminho semelhante e esgotou-se ao fim de algum tempo. No Portugalex, cria-se facilitismo e previsibilidade, através de personagens (representantes de personalidades) que sabemos já o que vão fazer ou dizer, seja Paula Bobone ou Pinto da Costa, Paulo Portas ou José Sócrates. O que mata o programa.
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