segunda-feira, 28 de abril de 2008

NOTAS PARA UMA AULA DE TEORIA DA COMUNICAÇÃO (8)


A pesquisa etnográfica desenvolveu-se tendo em atenção os benefícios da participação individual do investigador, que lida com problemas do estudo de culturas alienígenas. Desde há muito que o trabalho etnográfico se tornou uma das ferramentas essenciais da sociologia. Teóricos como Schutz e Cicourel foram referenciais na mudança de interesse dos métodos estatísticos quantitativos para modos qualitativos de questionar documentos, objectos e registos, assim como a observação directa e as entrevistas mais geralmente associadas com a etnografia. O interaccionismo simbólico possibilita a medição das transacções entre grupos separados, como as agências públicas e os seus clientes. O realce do interaccionismo simbólico permite o registo empírico da acção e interpretação social.

Um elemento fundamental na investigação dos cultural studies tem sido analisar e medir as relações complexas entre formas representacionais e ideológicas e a densidade ou “criatividade” das formas culturais “vivas”. Mas a corrente dos cultural studies, para além do interaccionismo simbólico, tem origens no weberianismo, na fenomenologia e na antropologia, visível no trabalho inicial de Phil Cohen (cultura da classe trabalhadora e cultura juvenil em East End), mas também nos trabalhos posteriores de Paul Willis (reprodução cultural, educação e processo laboral), Angela McRobbie (socialização do género, patriarcado e cultura juvenil), Dorothy Hobson (estruturas da experiência doméstica feminina e discursos mediáticos), Roger Grimshaw (estruturas da masculinidade, ideologia e família).

As formas etnográficas iniciais associaram-se com o trabalho das subculturas, casos de Phil Cohen e dos textos mais etnográficos de David Hebdige, P. Willis e P. Corrigan. Mais importante, o método foi sendo generalizado e tornou-se central na investigação. Em todos esses estudos tem sido possível estabelecer uma relação particular entre teoria e etnografia.

A presença mais forte dos interesses feministas no projecto etnográfico dos cultural studies daria voz a uma experiência pessoal de mulheres e raparigas estudadas na investigação.

Leitura: Roger Grimshaw, Dorothy Hobson e Paul Willis (1980/1996). "Introduction to ethnography at the Centre". In Stuart Hall, Dorothy Hobson, Andrew Lowe e Paul Willis (ed.) Culture, Media, Language. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 73-77

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