segunda-feira, 26 de maio de 2008

MANCHETES SOBRE CRIMES DESTACAM-SE NO JORNAL PÚBLICO


A ler com cautela, porque o título é enganoso

No Público online de hoje, a partir de take da Lusa, lê-se:

Segundo o Relatório de Regulação de 2007 da ERC
RTP, SIC e TVI não cumprem lei da televisão e contrato de concessão (26.05.2008 - 13h59 Lusa)
As três televisões generalistas não cumpriram no ano passado as suas obrigações, tendo a RTP falhado na difusão de obras em português e a SIC e TVI nos programas de debate e entrevistas, segundo o Relatório de Regulação de 2007 da Entidade Reguladora para a Comunicação Social hoje divulgado.
De acordo com este Relatório de Regulação, a monitorização da emissão dos canais portugueses mostrou "insuficiências claras" no cumprimento das obrigações da RTP, nomeadamente no que diz respeito a programas formativos e dirigidos aos jovens e crianças, mas também na quota de difusão de obras de produção em língua portuguesa. A RTP1 não cumpriu a obrigatoriedade de difusão de pelo menos 20 por cento de obras criativas de produção originária em língua portuguesa, tendo até registado uma "descida relevante" relativamente a 2006. Incumprimento que foi também registado na RTP2, onde se verificou igualmente uma descida. A estação pública registou também um "baixo índice" de programas formativos e uma "quase ausência" nos dias úteis de programas dirigidos aos públicos juvenil e infantil e aos grupos minoritários, obrigações impostas pelo contrato de concessão de serviço público. A ERC fez ainda um "reparo crítico" à RTP2 devido às repetições de programas, que representam "mais de um quarto da programação" neste canal. Os canais privados SIC e TVI também foram acusados de incumprimento, tendo ambos falhado a obrigação de emitir programas informativos de debate e entrevista autónomos e com periodicidade semanal. A ERC adianta ainda que a TVI não cumpre a obrigação de emitir diariamente programas dirigidos ao público juvenil e infantil, no período da manhã ou da tarde.

O texto do Público online dá 19 linhas à informação sobre a RTP e 4 linhas sobre os dois canais privados. No relatório da ERC, há cerca de 35 páginas dedicadas à avaliação da programação dos dois canais públicos e cerca de 30 páginas aos dois canais comerciais (SIC e TVI). Na análise aos noticiários há igual equilíbrio. O jornal deveria respeitar este mesmo equilíbrio.

Eu procurei outras páginas do relatório (de 1226 páginas!) e vi o que se escreve sobre o Público e o Diário de Notícias (p. 959):

A análise das primeiras páginas das 15 edições do Diário de Notícias e do Público abrangidas na amostra registam um conjunto de características e padrões que confirmam a sua natureza de jornais “de referência”, não obstante contenham também, nomeadamente o Diário de Notícias, elementos característicos do perfil “popular”.
• Esses elementos estão presentes, nomeadamente, na selecção e hierarquização dos temas mais frequentes e no enfoque colocado na sua abordagem, na construção de títulos, na identificação e pluralidade de fontes. No Público, destaca-se o peso dos temas e protagonistas internacionais e da cultura, com valores mais elevados que no Diário de Notícias.
• Nas 15 edições de cada jornal identifica-se uma maior fragmentação da primeira página do Diário de Notícias, relativamente à primeira página do Público, patente no maior número de artigos (em títulos, chamadas etc.) (203) do que a primeira página do Público (116).
No que respeita a manchetes, embora em ambos os jornais a maior parte das manchetes incida sobre um conjunto variado de temas, destacam-se as manchetes sobre crimes [colorido meu].

Isto é, se o Público chama a atenção para o que se passa nas televisões, eu puxo o tema das manchetes sobre o crime naquele jornal para primeiro plano. A minha leitura é tão válida como a do jornal, mas igualmente errada. Com a agravante do jornal não enunciar as parcelas boas da análise da ERC sobre os canais de televisão. O erro, o não cumprido, o negativo é notícia; os aspectos positivos são omitidos. É preciso ter atenção com este modo de fazer as notícias, mesmo que a fonte seja a agência de notícias Lusa!

Conclusão última: da notícia do Público parece haver um ataque ao serviço público de televisão.

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