Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
UM PROJECTO DE PÓS-DOUTORAMENTO – QUE ME LEMBREI DE ESBOÇAR HOJE MAS NÃO VOU FAZER (5) [CONCLUSÃO]
[continuação do texto dos dias 6, 9 e 25 de Abril e 8 de Maio]
Como as tecnologias retrataram (ou poderiam retratar) o Maio de 1968
Os jornais seriam o único meio de comunicação veiculando informações (sobre a televisão e os seus noticiários ler o livro de Francisco Rui Cádima). Mas como Portugal era um país amordaçado, a objectividade e imparcialidade não existiam, dado o aparelho de censura que tudo sopesava e cortava. O esterótipo tomou conta da representação do movimento. Os jornais começaram a perder peso em termos de volume de vendas, mais acentuado nos anos de 1980, com o desaparecimento de muitos títulos (embora novos surgissem). Dada a quantidade de imagens (e de ícones então nascidos com as demonstrações estudantis francesas), as revistas, embora de modo ténue, eram o melhor espaço para informar o que se passava em França.
Algum telefonema ou a vinda de alguém conhecido de França seriam eventualmente os modos mais adequados de transmissão de conhecimentos, conquanto o telefone sofresse escutas, com alocação de aparelhos de escuta numa zona discreta em cada central telefónica.
Então iniciada, a Primavera marcelista (mudança de regime por dentro) fracassaria. Entre 1968 e 1969, o regime experimentou mudanças. A ala liberal do parlamento (então Assembleia Nacional), em que Sá Carneiro e Pinto Balsemão seriam dos membros mais conhecidos, recuava rapidamente. A televisão era controlada pelo regime, enquanto a rádio, como acima escrevi, passava por uma mudança tecnológica e geracional, embora sem força para dar conta do que se passava fora de Portugal – afinal havia mudanças em França, na Alemanha, nos Estados Unidos.
As rádios livres, primeiro, e a televisão privada de 1992 e 1993, logo depois, fizeram o audiovisual ser a tecnologia de comunicação mais importante, na informação e no entretenimento (o cinema também se ressentiu da massificação da televisão, em especial quando a telenovela surgiu à hora do jantar, caso de Gabriela, que fazia parar o país). Dois indicadores de serviços davam conta dessa paragem num tempo em que não havia medição de audiências: as centrais telefónicas mecânicas ficavam mudas durante a transmissão da telenovela e desatavam num enorme ruído quando ela acabava (o ruído era provovado pelo equipamento que funcionava); o caudal de água consumida era mínimo durante o mesmo período, aumentando substancialmente quando a novela acabava. Os técnicos desses dois serviços conseguiam assim medir fluxos de consumo.
De 1974, quando houve mudança de regime político, até 1986, data de entrada do país na CEE, as tecnologias foram lentas na sua evolução, como atrás descrevi. Mas o Maio de 1968 já não era tão importante, dadas as transformações – sociais, económicas, profissionais, culturais e tecnológicas.
Quarenta anos de história, sem contar com as guerras, as descobertas científicas, as alterações da natureza, os movimentos sociais, a arte e a cultura, são já muito tempo. De alegrias e tristezas, de saltos no progresso e de recuo nas mentalidades, como alguns movimentos religiosos extremistas que executaram graves acidentes em Nova Iorque, Londres e Madrid. A tecnologia e o impacto que ela tem na sociedade, que a aproveita e reapropria, como no caso dos SMS do telemóvel, é o elemento fulcral deste projecto que ainda agora começou e já o dou por encerrado. O pós-doutoramento vai ter de esperar por dias mais calmos e disponíveis.
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1 comentário:
Um senhor que gosta de acabar o começa. Para recomeçar um dia. Vai guardando projectos: restauraçao ( com pastéis de Belém !) pos-doutoramentos...
bom dia,
mgf
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