sexta-feira, 11 de julho de 2008

AGENDAMENTO DE NOTÍCIAS

Comparado com os dias anteriores, o dia de hoje está mais calmo (leia-se: reflexivo) em termos de notícias de política.

Desde as eleições internas do PSD (principal partido da oposição, agora liderado por Manuela Ferreira Leite) até ontem (debate parlamentar do Estado da Nação), as notícias foram em crescendo de dramatismo, incluindo um estudo da SEDES, uma associação cívica com existência desde o começo da década de 1970. O agendamento (temas mais empregues nos media e nos meios políticos) surgiu dividido em dois. O primeiro, a identificação da crise económica e financeira interna, crise económica e financeira externa. Do lado do partido do governo (PS), defendeu-se a ideia que a crise interna está debelada e dos esforços se concentrarem na redução dos riscos quanto à crise externa, de que o governo não é responsável e não pode controlar a totalidade das variáveis (aumento dos preços dos combustíveis e dos produtos alimentares, bens importados). Do lado do PSD e da restante oposição à esquerda e à direita do PS no leque parlamentar, a acusação de que ambas as crises estão incontroláveis. O segundo tema de agenda foi o das obras públicas, que o PS considera importantes para rearrancar a produção industrial (comboio de alta velocidade, aeroporto de Alcochete, novas autoestradas) e que o PSD entende servir para aumentar a despesa pública (caso do TGV e das autoestradas).


O dia D era ontem, onde o debate parlamentar iria opor o novo líder da bancada parlamentar do PSD, Paulo Rangel, ao primeiro-ministro, José Sócrates. Os media, quer a televisão quer os jornais, apostaram muito neste embate, como se fosse um jogo desportivo, à espera da derrota de um ou de outro, estilo corrida de cavalos, como os investigadores dos media estudam e que, entre nós, Estrela Serrano também o fez. Objectivo: reduzir as ideias, as propostas daqueles políticos e dos outros parlamentares a um jogo de quem fica à frente ou ganha.

Vi o que a televisão mostrou ontem; comprei os jornais para ler hoje. Seleccionei três jornais: Público, jornal sério e de referência, Diário de Notícias, jornal sério e de qualidade com uma tendência para popular, e Correio da Manhã, jornal popular. As capas dos três estão acima, observando-se que o Correio da Manhã não dá qualquer informação, de modo oposto ao dos outros dois. Público e Diário de Notícias dividem quase igualmente os destaques ou manchetes por dois assuntos: discussão do Parlamento, com referências a Sócrates, e venda do iPhone em Portugal.

Entrando dentro dos jornais, o primeiro grande destaque do Correio da Manhã é precisamente a discussão do Estado da Nação (duas páginas, com quatro fotos dos líderes do PS, PSD, CDS e BE), a que se segue a sua manchete (Quique Flores, treinador do Benfica, ameaça sair). No espaço dedicado à política, as duas páginas dividem-se em sete notícias e uma coluna de citações, espaços muito próximos do modelo da internet, com cor nas fotografias e notícias curtas. Informação muito equilibrada, fica em três linhas a ideia que a prestação do novo líder parlamentar do PSD não convenceu.

O Diário de Notícias dedica cinco páginas, com textos jornalísticos e comentários (João Lopes, António Costa Pinto, Francisco Almeida Leite), num total de 14 peças jornalísticas e 7 jornalistas em acção, o que dá conta do esforço de informação do jornal. Além da referência aos principais pontos das medidas preconizadas pelo primeiro-ministro, o Diário de Notícias anota igualmente as posições dos partidos e a posição das empresas de combustíveis, alvo de um novo imposto. Os textos dos jornalistas são, a meu ver muito isentos, citando as ideias mais importantes dos discursos dos vários líderes parlamentares. Já os textos dos comentadores são subjectivos, no sentido de considerarem que o dirigente do PSD não saiu a ganhar.

O Público dedica quatro páginas com trabalhos de seis jornalistas, num total de seis textos. Mais à frente, na coluna do editorial, o director escreve sobre e contra Sócrates. Como nos outros jornais, neste jornal há, dentro de uma caixa, informação sobre as principais medidas anunciadas pelo poder. Os textos assinados pelos jornalistas são, como nos outros dois jornais, muito equilibrados e isentos, embora uma das peças indique, com base num comentário de dirigente do PS, que a saída da sala de parlamentares do PSD queria dizer que estes não teriam gostado da intervenção do seu líder. "Desalinhado" com o distanciamento dos jornalistas, o director usa a prerrogativa dos comentadores do Diário de Notícias mas, ao invés destes, toma uma posição diferente, de oposição ao primeiro-ministro, falando em demagogia na medida de imposto sobre as empresas que vendem combustíveis e pedindo para este concretizar melhor as medidas anunciadas.

Sem contar com o Correio da Manhã, que não tem comentadores sobre a matéria, o que mais importante foi dito nos jornais reside nos comentadores, pois são marcas de água (ideológicas, se quisermos). Não obrigados à objectividade dos jornalistas, mostram para que lado pendem. E, nesta minha leitura, o Diário de Notícias está mais próximo do PS e o Público do PSD (ou da oposição em geral).

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