Caro Dr. Pedro Jorge Braumann,
O Museu da Rádio fechou, com imensa tristeza de todos os que gostam da rádio, em finais do ano passado. O primeiro anúncio li-o em Maio de 2004, quando se dizia estar para breve o seu encerramento. Então, passavam doze anos depois de ter sido aberto ao público (1992). Por essa ocasião, eu escrevi uma carta à administração da RDP. Na resposta (ver aqui em 28 de Maio de 2004), li: “o actual Museu da Rádio não será «desmantelado». Pelo contrário, a instituição dará oportunamente lugar ao futuro Museu da Rádio e Televisão, passando a incorporar também o espólio do núcleo museológico da RTP”.
Em finais do ano passado (2007), quando o museu estava definitivamente fechado, o Dr. Pedro Braumann dizia à Rádio Renascença (ver vídeo aqui, realizado por Dina Soares e Conceição Sampaio) que já não iria haver um museu, por decisão do Governo e da administração da RTP. Nessa ocasião, respondia ir abrir um núcleo de peças físicas visitáveis até ao fim do ano (2007). A posição da RTP mudava totalmente, o que significa ausência de verdade de quem me escreveu há quatro anos.
Estamos em Julho de 2008, e ainda não há museu ou núcleo de “reserva visitável”, expressão que usou na entrevista à Renascença. Sabemos que há peças guardadas nas caves das instalações centrais da RTP, à Avenida Marechal Gomes da Costa em Lisboa (garagem), e outras num edifício em Pegões, onde funcionou o emissor de ondas curtas da estação (e cuja segurança não será a melhor).
Parece que, agora, a aposta é a criação de um espaço de museu virtual.
Caro Dr. Pedro Jorge Braumann, como Director do Núcleo Museológico da Rádio (e da Televisão), peço que reconsidere – ou diga a quem teve a ideia para reconsiderar – a criação de um espaço de museu virtual, sem mais nada. Os visitantes querem peças reais, físicas. Para virtual, já temos a internet (e esta, apesar de nos dar imagens de todo o mundo, não acaba com a vontade de viajar, de contactar com a realidade física do mundo). Precisamos de ver o microfone de CT1AA (do pioneiro Abílio Nunes dos Santos Júnior), a mesa de programação de que Artur Agostinho falava no vídeo da Rádio Renascença, o estúdio em que ele falou, os aparelhos de recepção, muitos deles oferecidos pelos ouvintes.
A nós, que gostamos seriamente da rádio, não compreendemos que o destino das peças físicas não esteja perfeitamente acautelado. Não percebemos que haja uma selecção de peças por causa da falta de espaço, e que isso possa conduzir a que outras peças estejam destinadas à destruição ou venda por presumível menor valor patrimonial. O espólio do antigo Museu da Rádio não deve ser espartilhado, por respeito aos que construiram esse património, pela necessidade de explicar às novas gerações a importância da rádio em Portugal e por todos os que querem estudar a rádio. Um erro económico de hoje (poupar no espaço) pode revelar-se um desastre no futuro, se perdermos a memória colectiva do país ou traços fundamentais para a sua reconstituição.
Sabemos, igualmente, que a administração da RTP ouve bem as suas posições; por favor, use essa boa influência para dar feliz destino às peças do antigo Museu da Rádio. O país ficar-lhe-á grato por isso.
De um amigo e colega que o estima.
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