Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 20 de julho de 2008
ERIC ROHMER
Os amores de Astrea e de Celedon serão, com certeza, o testamento de Eric Rohmer. Velho e doente, talvez ele não filme mais.
Por isso, o filme já traz em si uma grande nostalgia pelos tempos perdidos, pela inocência desaparecida, pela levada pureza de sentimentos. A lembrar Manoel de Oliveira no modo teatral da representação, o filme não é verosímil. Druídas, ninfas, pastores e cavaleiros (estes não presentes) são os seres humanos e espirituais que povoam a história. Filmado num sítio que não era o ideal inicial do realizador, mas que teve de abdicar dada a degradação da paisagem natural, a história decorre numa floresta maravilhosa (ou encantada), onde o trabalho parece submeter-se à música, à juventude e à alegria, a par de um código ético e estético muito vincado e da honra em cumprir promesssas.
Astrea relega o amor de Celadon. Este, desgostoso, atira-de ao rio, querendo morrer. As ninfas encontram-no e devolvem-lhe a vida. Uma delas apaixona-se por ele e pretende mantê-lo cativo num castelo saído dos livros de cavalaria da Idade Média, quando a cultura celta saía do domínio romano. Celadon sai, disfarçado de mulher, disfarce que o há-de aproximar de Astrea.
O filme não é verosímil, anotei acima. Mas demonstra uma linha de fazer cinema que é distinta da americana, nomeadamente a de ficção científica, com pós-humanos, ciborgues, violência e espaços desertificados ou destruídos por uma qualquer guerra atómica. O cinema é uma arte da ficção, do irreal, do ainda não criado.
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