domingo, 13 de julho de 2008

A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NOS MEDIA, COMUNICAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL


"A representação das mulheres nos media dos estereótipos e «imagens de mulher» ao «feminino» no circuito da cultura", de Maria João Silveirinha, no livro organizado por João Pissarra Esteves, é um artigo com uma estrutura exemplar.

A autora apresenta assim o problema: "quando a investigação fala em representações nos media é, com frequência, para denunciar, como falsos, os estereótipos construídos em torno de certos grupos ou indivíduos" (p. 103). O objecto de análise é a representação mediática das mulheres, tema a que Maria João Silveirinha vem dedicando muita atenção nos últimos anos, tipificada neste texto que resulta de uma sua permanência na Universidade de Glasgow, e em especial com Greg Philo, com quem a autora trabalhou.

Escreve Maria João Silveirinha que a contestação identitária dos estereótipos como representações mediáticas situa-se nos anos de 1960 em torno de raça, sexo e classe.

Depois da apresentação do problema, a autora e docente universitária (Coimbra) trata de definir a origem do termo estereótipo, associado ao de representação. Daí, percorrer nomeadamente Lippmann e o estereótipo (teoria dos efeitos), Adorno ( e o pouco material que ele dedica à análise da mulher; escola crítica), Tuchmann e a imagem da mulher (teoria construtivista), cultural studies (integrando o pós-estruturalista Foucault, com a sua multiplicidade e diferença) e o circuito da cultura (representação, identidade, produção, consumo, regulação).

Sem demonstrar particular atenção à análise de Adorno, vejo o destaque que ela dá em número de páginas (5,5 em 24). Já as representações no circuito da cultura despertam maior envolvimento (emocional e científico) (6 páginas). O CCCS foi um espaço de crescimento de estudos feministas, como Charlotte Brundson, Janice Winship e Angela McRobbie, entre outras. A imagem do feminismo tem inscrita uma dimensão cultural, que a autora deslinda (p. 118).

O modelo de circuito da cultura, que se encontra em Du Gay et al. (1997, Doing cultural studies: the story of the Sony Walkman), podemos igualmente ver na produção da Open University, Understanding Media, cinco volumes sob a responsabilidade da direcção de David Hesmondhalgh.

Deixo apenas duas frases do texto de Maria João Silveirinha:


  • A forma como a cultura é representada afecta o modo como é identificada (p. 122)
    O centro da pesquisa sobre a representação foi cada vez mais focado na questão de como os media representam, re-apresentam e constituem as identidades sociais (p. 125)
O texto de Maria João Silveirinha tem um lugar especial no livro organizado por João Pissarra Esteves (Comunicação e identidades sociais, Livros Horizonte, 2008), contando com textos de outros autores, para além do referido nesta mensagem e do organizador do livro, Gil Baptista Pereira, João Carlos Correia, Clara Roldão Caldeira, Lídia Marôpo e Maria Lucília Marcos, um conjunto de investigadores muito perto de João Pissarra Esteves (diversos deles fizeram investigação de mestrado e doutoramento com ele), numa linha próxima da teoria crítica de Habermas, alargada a temas como identidade, movimentos sociais, representação das mulheres, crianças e minorias sexuais, o nós face ao Outro e responsabilidade social.

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