Já aqui referi o trabalho do barrista João Ferreira ( joao.g.ferreira@sapo.pt) (5 de Maio deste ano). Conheci-o na festa do Senhor de Matosinhos deste ano. Os seus bonecos despertaram logo a minha atenção.

Por isso, agora, procurei-o em S. Martinho de Oleiros, Barcelos, terra de bonequeiros muito conhecidos, como alguns que refiro abaixo. Ainda não ganhei coragem para gravar um vídeo (ficará para outra ocasião). Mas surpreendi-o no seu local de trabalho, no seu ateliê - maioritariamente uma grande mesa perto da janela, onde se alinham peças já cozidas à espera de serem pintadas. Igualmente vi o seu forno e os bonecos que ele faz há quatro anos.
Não comprei todos os bonecos que queria. Na minha memória, ficou um boneco de maior dimensão que os que comprei - uma peça de belo design e que está também à venda no Museu da Olaria, em Barcelos (um cabeçudo).



Do primeiro contacto com os seus bonecos, surpreendera-me o conjunto de representações. Agora, pude inteirar-me melhor da colecção de figuras. Como escrevi aqui, há uma tradição cultural mantida pelo barrista, nomeadamente a seguida por Rosa Ramalho, a neta Júlia Ramalho, Rosa Côta, sua vizinha de aldeia. Mas detecto inovações, um traço mais urbano - apesar de figuras populares semi-urbanas e rurais. Os rostos são alongados, os narizes emproados e com dois tipos fundamentais de olhos: salientes, sem saliência num rosto mais liso, por vezes com maçãs do rosto vincadas a cor viva. Os braços são finos, as camisas geralmente arregaçadas e pintadas a cinzento.





Detenho-me na mulher com a criança ao colo. Orelhas grandes, para implantar as arrecadas (brincos) de ouro. A saia de grandes quadros é protegida por um avental que aperta atrás, como se vê se rodarmos o boneco. O cântaro na cabeça quer estabelecer o equilíbrio com a criança que traz ao colo, mais solidificada com os sapatos visíveis. A representação destes é um erro de representação, mas necessário para esse equilíbrio da figura central.
Apesar de transportar a criança, a mulher parece velha, desdentada, pois tem um queixo proeminente. Talvez seja uma imagem que o barrista conserva, pois terá visto vezes sem conta cenas deste tipo a partir da rua onde mora.
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