segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O BARRISTA JOÃO FERREIRA


aqui referi o trabalho do barrista João Ferreira ( joao.g.ferreira@sapo.pt) (5 de Maio deste ano). Conheci-o na festa do Senhor de Matosinhos deste ano. Os seus bonecos despertaram logo a minha atenção.


Por isso, agora, procurei-o em S. Martinho de Oleiros, Barcelos, terra de bonequeiros muito conhecidos, como alguns que refiro abaixo. Ainda não ganhei coragem para gravar um vídeo (ficará para outra ocasião). Mas surpreendi-o no seu local de trabalho, no seu ateliê - maioritariamente uma grande mesa perto da janela, onde se alinham peças já cozidas à espera de serem pintadas. Igualmente vi o seu forno e os bonecos que ele faz há quatro anos.

Não comprei todos os bonecos que queria. Na minha memória, ficou um boneco de maior dimensão que os que comprei - uma peça de belo design e que está também à venda no Museu da Olaria, em Barcelos (um cabeçudo).


Do primeiro contacto com os seus bonecos, surpreendera-me o conjunto de representações. Agora, pude inteirar-me melhor da colecção de figuras. Como escrevi
aqui, há uma tradição cultural mantida pelo barrista, nomeadamente a seguida por Rosa Ramalho, a neta Júlia Ramalho, Rosa Côta, sua vizinha de aldeia. Mas detecto inovações, um traço mais urbano - apesar de figuras populares semi-urbanas e rurais. Os rostos são alongados, os narizes emproados e com dois tipos fundamentais de olhos: salientes, sem saliência num rosto mais liso, por vezes com maçãs do rosto vincadas a cor viva. Os braços são finos, as camisas geralmente arregaçadas e pintadas a cinzento.


Os homens têm fartos bigodes e bocas pequenas. Na cabeça usam bonés, chapéus, bóinas. Engraxam calçado, trabalham em máquinas, tocam música. Mas uma mulher esguia, de saia comprida, toca um violoncelo, acompanhando certamente aquele outro músico.

Detenho-me na mulher com a criança ao colo. Orelhas grandes, para implantar as arrecadas (brincos) de ouro. A saia de grandes quadros é protegida por um avental que aperta atrás, como se vê se rodarmos o boneco. O cântaro na cabeça quer estabelecer o equilíbrio com a criança que traz ao colo, mais solidificada com os sapatos visíveis. A representação destes é um erro de representação, mas necessário para esse equilíbrio da figura central.

Apesar de transportar a criança, a mulher parece velha, desdentada, pois tem um queixo proeminente. Talvez seja uma imagem que o barrista conserva, pois terá visto vezes sem conta cenas deste tipo a partir da rua onde mora.

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