terça-feira, 16 de setembro de 2008

O LIVRO DE MARK DEUZE


O livro de Mark Deuze Media Work é uma excelente análise ao mundo dos media, em especial quatro grandes áreas: 1) publicidade, relações públicas e marketing, 2) jornalismo, 3) produção de cinema e televisão, e 4) design e desenvolvimento de jogos (ver o blogue de
Deuze). Como autores de base, Deuze segue Scott Lash e John Urry. Mas igualmente Zygmunt Bauman e o seu conceito de modernidade líquida, pelo que mudança e insegurança (trabalho precário, freelancer) nos media seguem a perspectiva daquele investigador de origem polaca.

Em termos de conclusões, Deuze trabalha dez conceitos base, entre os quais instituições desabitadas (empresas que albergam trabalho temporário), cultura da convergência, indústrias criativas, efeito da ampulheta (relação entre grandes empresas e micro-empresas), divisão internacional do trabalho da cultura, grupos de trabalho semi-permanente, ecologia dos projectos, produção da autenticidade, narcisismo das pequenas diferenças (associado ao culto da criatividade).

Para esta mensagem, retiro algumas ideias do capítulo sobre a produção de cinema e televisão (pp. 171-199). Assim, segundo Deuze, o trabalho no cinema, na televisão e no vídeo caracteriza-se como precário e freelancer, movendo-se entre o emprego intensivo e o desemprego de curta ou média duração, baseado em projectos, com permanente incerteza a nível de rendimentos. O autor analisa igualmente o outsourcing, em que os grandes estúdios distribuem por pequenas empresas os riscos de produção, embora mantenham o controlo do marketing, distribuição e exibição.

Como nas outras indústrias culturais, no mundo do audiovisual e do cinema há incertezas quanto ao sucesso de cada produto, cujo processo de elaboração é complexo e possui uma elevada divisão de tarefas. Por outro lado, existe uma maior internacionalização das produções (co-produções), verificável desde a década de 1990.

No capítulo, o autor reflecte sobre a quase total ausência da formação em novo hardware e software e equipamento, o que conduz à individualização da responsabilidade de aprender e formar e traduz implicações importantes no modelo de trabalho: as empresas não pagam o tempo dedicado à formação e à auto-aprendizagem. Uma estratégia relevante de recrutamento é a combinação do recrutamento de pessoal (concurso e reputação em rede de colegas, que conduz a indicações para entrada num projecto).

Por isso, o trabalho criativo resulta numa satisfação pessoal intensa, a desregulação e desintegração vertical das empresas são acompanhadas pela prevalência de redes sociais informais e ligações pessoais que facilitam o acesso a um trabalho e, a nível tecnológico, há subcontratação de serviços e projectos em especialistas e actividades especiais. Assim, e como conclusão do capítulo, Deuze considera que as características da cultura de trabalho nos media – muitas horas, incerteza de trabalho, falta de estabilidade nos rendimentos, níveis de elevado stress, intenso trabalho de equipa – têm consequências directas no trabalho.


Leitura: Mark Deuze (2007). Media Work. Cambridge e Malden, MA: Polity, 278 páginas

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