Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 18 de outubro de 2008
A HISTÓRIA DO FM
A leitura de Sounds of change. A history of FM Broadcasting in America (2008), de Christopher H. Sterling e Michael C. Keith, não foi regular, misturada com outras leituras e obrigações. Mas estou pronto a escrever um texto sobre o livro com objectivos diferentes da publicação no blogue.
Do que fica do livro, ressalto a figura ímpar de Edwin Armstrong, com as suas patentes, do receptor pioneiro até à defesa da FM, da sua aceitação inicial por David Sarnoff, o patrão da RCA, e afastamento posterior, por recear que a FM fosse um tipo totalmente diferente da AM, o que levaria o negócio ao recomeço a partir do zero. Aliás, a Sarnoff é imputado o peso moral do suicídio cometido por Armstrong, abalado de finanças e de reconhecimento após anos de luta pela modulação de frequência. Parece-me exagero, mas a ideia persiste. Em segundo lugar, a criação de uma gama de frequências do FM (42-50 MHz), mais tarde transferida para 88-108 MHZ, com dois efeitos opostos: a) retrocesso inicial, pois os emissores e receptores tinham sido construídos atendendo aquelas frequências, b) ganho posterior dada a maior largura de banda da segunda opção. Em terceiro lugar, a lenta ascensão da FM face à AM, levando animadores e anunciantes para a primeira, culminando em 1979 com o maior peso da FM (nos Estados Unidos). Pelo meio, e como quarta conclusão, ficaria a emissão simultânea de emissões nos dois tipos de frequência, com uma autonomização da programação de FM. Como quinta conclusão, a estereofonia deu um alento suplementar à popularidade da FM, já beneficiando de melhor qualidade sonora. Em termos de sexta conclusão, a programação deixou de privilegiar a música clássica, habitual nos primeiros anos da FM, para aceitar os top 40, o jazz e a música country, o que significou a perda da elite minoritária mas fiel de ouvintes e o alargamento da base social da recepção da rádio. Começariam também a funcionar rádios escolares, de mesas redondas e fóruns, e ligadas a comunidades, minorias étnicas e religiosas. Para além da rádio pública (NPR), já na década de 1960. A sétima conclusão aponta para o futuro próximo: do mesmo modo que a AM foi substituída pela FM, a digitalização traz outras apostas. Com a pergunta: a rádio manter-se-á?
Estes dias de leitura do livro levaram-me a pensar no quanto falta fazer na história da rádio em Portugal. Que eu saiba, a FM operou sempre na banda dos 88-108 MHz, mas algumas das primeiras emissoras emitiam em simultâneo com a AM, não entusiasmando muito os ouvintes que não encontravam alternativas de programação. Igualmente, algumas emissões experimentais tiveram qualidade pouco desejável. A estereofonia foi um estímulo para a audição da FM. E uma geração nova de animadores surgiu nos finais da década de 1960, trazendo estéticas musicais novas (pop e rock de língua inglesa em vez de música francesa e espanhola e música clássica) e formatos distintos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário