sábado, 4 de outubro de 2008

NOTÍCIAS LIDAS EM TARDE DE SÁBADO


Há momentos, enquanto acabava a leitura dos jornais, a Antena 2 estava a transmitir música de Eric Satie (uma Gymnopédie e outras músicas). A sua audição deu para reflectir sobre as notícias. De um lado, os artigos de Eduardo Cintra Torres e de José Pacheco Pereira, do outro lado, o computador Magalhães.

Há semanas que os jornais (e a televisão) fazem eco da distribuição destes aparelhos nas escolas primárias e secundárias. Em princípio, pareceu-me interessante. Depois, comecei a ler que o computador não era português, que o governo estava a fazer propaganda. Fiquei com uma posição firme sobre a matéria, formada em especial pelo Público. Agora, o Expresso (e a SIC Notícias, ontem) falaram do presidente da Microsoft, que considera ser um projecto único no mundo e se espantar com o ruído e a incredulidade nacional. A minha confiança ficou abalada, parecendo eu um catavento, sempre a mudar de opinião.

Claro que a experiência e os livros me indicam cuidado. Há agentes sociais com interesses próprios e contraditórios que passam as suas mensagens específicas nos media. Estes não são contraditórios mas projectam valores variados e opostos (em democracia, este é o mal menor - antes disputa e discordância do que unanimidade controlada). Por isso, ler jornais é uma tarefa a fazer com muito cautela. Devemos estar com muita atenção aos interesses de cada agente social para descodificarmos porque se escreve assim. Eis uma primeira reflexão.

O que me leva a olhar para o que escreveu um dos colaboradores do Público que leio com mais atenção: Cintra Torres. Esta semana, voltou a questionar as tomadas de posição da ERC. Pelo que conheço dos interlocutores, calculo que um dos elementos dirigentes da ERC vai responder, usando termos semelhantes aos do articulista. Ora, não compreendo estes movimentos. Os seus temas e argumentação são tão previsíveis que pouco ganham, excepto a posição a favor ou contra. Deste modo, os jornais tornam-se pesados, repetitivos e enfadonhos, sem originalidade e afastam leitores. Tal constitui a minha segunda reflexão.

Um artigo de João Pedro Pereira sobre o comentário dos leitores na internet conclui que estes nem sempre são feitos de forma civilizada. Dou um exemplo pessoal: hoje, de manhã, pus-me a ler os comentários escritos sobre a candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa. Comentários anónimos, mal escritos e muito tendenciosos (contra, a favor) não servem para outra coisa senão medir a maledicência nacional. Creio que já escrevi aqui: os leitores anónimos do Público - ou de outros jornais - não serão leitores da edição em papel; quando muito lerão os anúncios na página online do jornal. A opinião destes leitores terá alguma validade? Isto leva-me à terceira reflexão, a da utilidade ou não de alguma ou muita da informação.

Acabo com a leitura da página 18, numa breve com o título "Televisões dão imagem errada". O texto completo é: "As televisões dão a imagem errada dos congressos partidários, segundo um estudo realizado por três investigadores portugueses que participaram em encontros dos partidos políticos e depois analisaram a cobertura dada por RTP, SIC, TVI. Os investigadores concluíram que nos directos, os partidos debatem "assuntos sérios" e os canais procuram "melhor imagem" e não "factos principais". Congressos e convenções partidárias - Como se relacionam políticos e jornalistas de televisão" foi publicado na revista do Observatório da Comunicação, em 2002". A palavra "investigadores" aparece duas vezes mas não sabemos quem são; sabemos que o texto foi publicado na revista do Obercom. A dúvida que se instala é saber da validade deste trabalho. Publicado em 2002 - não é antigo? A que propósito veio agora? Não haveria necessidade de enquadramento?


O que me conduz a uma quarta reflexão, dividida em duas partes e partindo de modo indirecto do que escrevi no parágrafo anterior: os media são espaços de discussão política mesmo que quando prossigam objectivos de lucro. Escreve-se tendenciosamente e usam-se os mesmos comentadores ou fontes que expressam pontos de vista ou simpatias já conhecidos. Ou os media são espaços de confusão, pois não se percebe o enquadramento de muito noticiário ou aceitam-se comentários (e cartas ao director) sem grande relevância para os cidadãos.

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