Até 31 de Dezembro, as bibliotecas especializadas de Lisboa Bedeteca e Hemeroteca Municipal apresentam, nas instalações da primeira, um conjunto de primeiras páginas do jornal Os Ridículos, bissemanário humorístico, acompanhadas das respectivas provas enviadas para e recebidas dos serviços de censura do Estado Novo (Comissão de Censura e o carimbo VISADO Pela Comissão de Censura) (1933-1945).
Segundo os organizadores, na mostra de Os Ridículos,
- a gargalhada, no mínimo, irrompe dobrada em face deste confronto de traços: o do mestre desenhador e o do censor zeloso, perante uma linguagem gráfica insinuativa.A exposição será organizada em três núcleos temáticos (política nacional, política internacional e Lisboa), e conta com desenhos e caricaturas da autoria de Alonso, Stuart, Colaço, Natalino, Silva Monteiro, Américo e Pargana. Através dos cortes às versões iniciais propostas pelos ilustradores, e da comparação com as páginas finais, é possível descortinar os resultados do controlo do Estado sobre o discurso humorístico e gráfico veiculado por este jornal, por outras palavras, sobre a liberdade de expressão, aqui essencialmente plástica – razões de sobra para não perder esta exposição.
A exposição é comissariada por Álvaro Costa de Matos (Hemeroteca Municipal) e Pedro Bebiano Braga (Museu Rafael Bordalo Pinheiro). O material pertence à colecção da Hemeroteca Municipal e representa "documentos bem reveladores dos objectivos e especificidades da censura sobre a imprensa, neste caso, sobre um jornal humorístico, bem como das estratégias e respostas dos jornais, muitas delas subtis, para contornar a acção do famoso lápis azul".
Os Ridículos começaram a publicar-se em Lisboa em 1895, por iniciativa e sob a direcção de José Maria da Cruz Moreira, o "Caracoles". Em Setembro de 1897, a direcção é assumida por "Auto-Nito", outro humorista muito popular na época. Apesar do entusiasmo inicial, a suspensão foi inevitável devido à forte concorrência entre os jornais humorísticos e ao elevado analfabetismo existente no país. Oito anos depois, em 1905, "Caracoles" pega novamente no jornal e, juntamente com "Esculápio" (Eduardo Fernandes), reedita Os Ridículos, aproveitando a efervescência política que precedeu a implantação da República. A partir de 1906, já sem a colaboração de Eduardo Fernandes, o jornal conheceu uma fase de franco desenvolvimento, enveredando pela crítica política e pela sátira aos acontecimentos dominantes da época; os seus jocosos comentários granjearam-lhe uma popularidade e uma notoriedade que se manteriam praticamente até ao fim do jornal, em 1984. Entre os seus colaboradores destacam-se Alonso (Santos Silva), Colaço, Silva Monteiro, José Pargana, Stuart de Carvalhais e Natalino Malquiades, no desenho humorístico e na caricatura política, enquanto os textos eram assegurados nomeadamente por Gamalhães (Xavier de Magalhães), Sousa Pinto, Aníbal Nazaré, Nelson de Barros, Borges de Antão e Casimiro Godinho (texto retirado da informação produzida pelos organizadores da exposição).
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