Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
RECORDAÇÃO DE BRASÍLIA (3) - SÍTIOS
A arquitectura de Brasília é utópica. Traçada a régua e esquadro, a Praça dos Três Poderes (legislativo, jurídico, executivo) é o cume dessa utopia. Uma grande alameda parte e desemboca lá, com os edifícios dos ministérios logo acima. O poder legislativo é bicamarário, o que torna mais ampla a discussão pública (espaço público).
A cidade foi inaugurada a 21 de Abril de 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. A cidade, ao dividir-se em duas asas (norte, sul), dá uma ideia da modernidade do transporte e do planeamento. O plano urbanístico (Plano Piloto) foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, que também concebeu o Lago Paranoá. Em simultâneo, fez-se a manutenção e a ampliação do espaço de arborização, com parques da cidade extensos e bem visíveis quando se chega à cidade de avião. As construções mais espectaculares seriam projectadas pelo arquitecto Oscar Niemeyer (ver mais informações na Wikipedia). Os sectores industriais são identificados, caso do sector gráfico, onde está o museu da Imprensa, por exemplo (destacado aqui, no passado dia 11). Aqui, a lógica do património é diferente dos modelos alemão e austríaco da ilha ou bairro dos museus. É grande a distância entre edifícios, apelando ao uso do automóvel (diz-se que em Brasília para um milhão de habitantes há dois milhões de viaturas).
A Universidade de Brasília (UnB) é outro lugar de utopia (entrevistei aqui o Chico Livreiro, fígura ímpar da cultura daquela universidade). Assente num edifício com um quilómetro de comprimento e inicialmente sem departamentos, a Universidade seria pensada como lugar em que todos, universitários e povo, pudessem conversar. O golpe militar de 1964 acabou com a utopia, nascendo a departamentalização. Da fundação, ficou o edifício, o seu enorme jardim e uma certa circulação anárquica. Muito recentemente, a legislação do país introduziu a distribuição por quotas de negros, índios, mulatos e pessoas pertencentes a níveis económicos reduzidos, o que terá impacto próximo na realidade daquela universidade.
À cidade falta o pathos das cidades europeias, de ruas com lojas, de edifícios antigos, de arquitecturas distintas consoante a época em que foram edificados. Há, contudo, quem pense o contrário: a Europa está decadente, o Brasil é um país do futuro, mostrando a diversidade e a miscigenação que Canclini tão bem observou (e de que fiz eco aqui).
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