Há bastantes dias que andava a pensar em escrever sobre os relatórios dos provedores do espectador (RTP) e do ouvinte (RDP) publicados com data de Janeiro, respectivamente por José Manuel Paquete Oliveira e Adelino Gomes, os detentores daqueles cargos.
Documentos de grande interesse, li fundamentalmente as conclusões e recomendações de ambos.
Assim, para Paquete de Oliveira, a análise da televisão pública distingue-se em duas parcelas importantes: informação e programação. Com realce residual a área da publicidade. No campo da informação, o provedor chama a atenção para a falta de um Livro de Estilo actualizado, as desconfianças de telespectadores sobre as possibilidades de interferências por parte do Governo, o estudo sobre o pluralismo partidário pela ERC em sequência de queixa do grupo parlamentar do Partido Social Democrata, a grande audiência do Telejornal da RTP1 que indica uma boa «imagem de marca» da RTP - e contradiz alguns reparos, como os que estiveram na base das desconfianças e da queixa acima indicadas -, a separação entre comentadores, porta-vozes e representantes partidários, a falta de pluralismo clubístico (leia-se: Benfica, Porto e Sporting), o destaque excessivo dado ao futebol, a falta de cuidado com a língua (falada e escrita). Já no domínio da programação, Paquete de Oliveira indica como principais eixos de análise: cumprimento das obrigações vindas do estatuto de serviço público, articulação entre diversos tipos de cultura (erudita, popular e de massa), grelha de conteúdos e horários de exibição adequados aos segmentos de público a que se destinam, necessidade de mais programas culturais (teatro, dança, música erudita, cinema, pintura, literatura, história) integrados na programação da RTP1, e revitalização dos centros de produção do Porto, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora e Faro.
Já o provedor do ouvinte situou como principais as questões, na área da programação, da Antena 2 (ver a seguir), a playlist e o peso do futebol. Na informação, criticou os critérios de alinhamento dos noticiários (e a predominância de acontecimentos relacionados com o mundo do futebol). Nos dois, apontou deficiências de locução e mau uso da língua portuguesa. O provedor deu ênfase a textos públicos como A macdonaldização da Antena 2, do professor universitário e ex-secretário de Estado da Cultura Mário Vieira de Carvalho, e Playlist da Antena 1: uma vergonha nacional, publicado no blogue A nossa Rádio, de Álvaro José Ferreira. Ressaltou as "regulares mensagens sobre os critérios do alinhamento dos noticiários e um bom número de críticas pormenorizadas de ouvintes da Antena 2, criticando não apenas opções mas também o modelo prevalecente na rádio clássica desde a entrada da actual equipa dirigente".
Claro que o ideal é ler os documentos na íntegra e defender a existência de provedores nas outras rádios (Renascença, Comercial, TSF) e televisões (SIC, TVI).
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