sábado, 21 de março de 2009

AGENDA MEDIÁTICA E POLÍTICA

Nestes dois últimos dias, surgiram algumas questões tendo como centro os media e a sua relação com a política. Em ano de várias eleições políticas, é interessante verificar como o território dos media é ocupado de maneira impressiva.

Episódios (ou pseudo-acontecimentos): anúncio da Antena 1; críticas do noticiário das 20:00 das sextas-feiras da TVI na ERC. Agentes sociais: partidos políticos (PS e PSD, aquele mais identificado em termos de nomes individuais, como Arons de Carvalho), entidade reguladora (ERC), media (TVI, identificado com José Eduardo Moniz, director do Público e colaboradores deste jornal, na edição de hoje, respectivamente José Manuel Fernandes, Eduardo Cintra Torres e José Pacheco Pereira).

Observação: quem tivesse lido a notícia publicada ontem - no Diário de Notícias e no Público - sobre a análise que a ERC vai fazer às críticas de espectadores à TVI, leria dois tipos distintos de abordagem, uma mais neutra no primeiro, outra dando relevo ao director-geral da TVI, ameaçando ir à guerra total se se comprovasse a ERC ser serva do poder. Nesta última notícia, percebeu-se uma melhor definição do enquadramento do tema, com uma identificação de quem era e o que pretendia. A notícia do Público, apesar de maior tendenciosa (por dar mais relevo a uma fonte de informação), era mais completa e mostrava melhor a realidade em jogo. A isto chamo campo de notícia: a perspectiva distinta nos vários media a partir de um facto (ou pseudo-facto).

Posições: pelo escrito acima, ela é mais visível e entendível no Público. Logo, e goste-se ou não, é um jornal a seguir nos próximos dias. A posição do Diário de Notícias é mais factual, menos interpretativa e comprometida com uma posição, com menos interesse político e intelectual.

Ameaças e oportunidades: a posição de Arons de Carvalho, em texto há uma semana publicado no Expresso, onde defendia a existência de uma campanha negra em torno do primeiro ministro, tem contraponto em José Eduardo Moniz, na notícia de ontem do Público, como aliás ele se expressou igualmente na semana passada em conferência na Católica. As posições de ambos estão bem definidas e expressam uma luta entre um partido político e um canal de televisão (e jornais como Público e Sol), o que ameaça a relação habitual de combate político: partido de poder versus partido de oposição. Esta ameaça está consubstanciada numa queixa da líder do principal partido de oposição durante a actual semana: Manuela Ferreira Leite disse que os media a não escutavam. Aqui, há duas interpretações: os media preferem ouvir o poder político de serviço e não a oposição; as propostas dela não convencem os media. A oportunidade é ver os media como continuadores da defesa da liberdade no espaço público, numa altura em que a opinião pública tem outra agenda: desemprego.

Última observação: em ano eleitoral, é compreensível que os pseudo-acontecimentos ganhem uma ampliação inexplicável noutros períodos. O anúncio da RDP deveria ter sido logo eliminado, ou pensado previamente no impacto que teria, mesmo antes da sua emissão. Há que prever as conotações. A tensão que existe em tempos de eleições é propícia a estas interpretações. O pedido de demissão da direcção da RDP é excessivo, faz parte da espuma dos dias. Ao invés, o comportamento da ERC continua a ser minuciosamente escrutinado; e a ERC é uma entidade de grande poder mas, ao mesmo tempo, frágil, pois ela emana da Assembleia da República; se a relação entre os dois principais partidos políticos está comprometida (como no caso do provedor de Justiça), tal significa que a entidade sofre igualmente dessa degradação da relação dos partidos.

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