sábado, 21 de março de 2009

PAVILHÃO 28

O Pavilhão 28 já foi usado. Agora está desabitado, lá não há doentes. Poderia ser o sítio dos doentes desesperados, isolados, deixados sem humanidade, terminais. As paredes estão nuas e os tectos degradados. Aliás, há restos de pintura e desenhos num dos quartos. O longo corredor, com pouca luz à noite, mete medo. Não fora os outros visitantes, ficaria assustado.


O ambiente é propício para as exposições/instalações. O efémero e o ilusório da duração, o reciclável, os materiais pobres, a noção escassa de beleza em termos de como os ocidentais se exprimiram desde antes do Renascimento, o trágico da humanidade, o habitar e deixar de ser habitado, o frio resultante desse desaparecimento, estão ali patentes. Há, não posso deixar de afirmar, o desespero de uma geração jovem. Urbana, muito letrada, parece que procura o desconforto, a pobreza material. E dar conta da desagregação das cidades - de partes das cidades, prontras para o camartelo - e das psicologias individuais.

Underconstruction, na ala direita, usa os vídeos como representantes maiores da arte. Filmes sobre a periferia de Lisboa, a miscigenação, a cultura dos outros, marginalizadas mas existentes e vivas. Apartamentos, na ala esquerda, conta por exemplo com RAM, que utilizou dois quartos da pavilhão para expor. De um lado, estão os seus graffitis pintados em rectângulos de vidro; do outro lado, ficaram as marcas desses quadros antes de migrarem para o lado. Resistem espaços brancos rodeados por sinais e cores e formas monstruosas, a apontar para a doença mental. Este lado, agora ausente de vida, revela traços de uma alegria perdida da habitabilidade. Ou: fala-nos das experiências de pintores radicais de finais do século XIX que indicavam a sua degradação física, explorando as cores e as formas nos quartos que habitavam, antes da explosão do graffti no espaço público, como acontece hoje. O abandono do Pavilhão 28 expressa-se em RAM como nas fotografias de Gundula Friese. Alemã, ela fotografou os locais desabitados da Alemanha oriental pós 1989. Ruínas, degradação, esquecimento, mesmo a má qualidade das fotografias, indicam um estado de alma da fotógrafa - e do resto dos artistas da exposição/instalação.

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