Pelo perfil da mulher, que usa dois colares de contas e um vestido com flores em fundo branco, não se consegue saber mais do que um rosto sério e atento, mas escapa-nos a razão do olhar. O autor da imagem a preto e branco, que poderia dar um razoável retrato etnográfico, deve ter usado uma lente com pequena profundidade de campo. Fora de campo, parece haver árvores; à esquerda, ergue-se um artefacto de que não se compreende o significado por falta de elementos; as silhuetas por detrás da mulher indicam vegetação com algum porte, o que denota uma paisagem da savana africana. Que história pessoal transportava a mulher? Como viveu o fim da colonização portuguesa? Quando acabou a festa de então? Que novos problemas e alegrias?
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 25 de abril de 2009
35 ANOS ATRÁS
Há 35 anos, o alferes A. era o oficial de dia num quartel do norte de um país africano colonizado por Portugal. Chegara há pouco tempo ao local. Quando lhe telefonaram a indicar a existência de um golpe de estado em Portugal, ele receou o pior. Os media locais demoraram a informar dos acontecimentos em Lisboa e no resto do país. Nos três meses seguintes, as tropas de A. sofreram mais ataques e emboscadas do que antes de Abril de 1974. Depois, quando portugueses e nacionalistas começaram a falar em independência do país africano, as lutas cessaram. O alferes A. quase que poderia jogar às cartas com oficiais do movimento armado do país africano. Quando ele regressou a casa, encontrou um país com liberdade e já profundamente envolvido num novo ciclo de vida política.
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