quinta-feira, 9 de abril de 2009

ADORNO VISTO POR ARON

  • As minhas relações com Horkheimer, Adorno e Pollock foram mais mundanas do que intelectuais. Em 1950, reencontrei Horkheimer, "rector magnificus" da Universidade de Frankfurt. Visivelmente feliz pela vingança do destino, teve a honra de receber o Chanceler Adenauer de visita à cidade. Convidado pela Universidade, eu tinha no mesmo dia um discurso "an die deutschen Studenten".

    A Escola de Frankfurt gozava de certa notoriedade, até mesmo de prestígio, no mundo anglo-saxónico. Justo regresso da moda intelectual? Esta mereceria mais do que a relativa obscuridade que tinha antes de 1933? Pode ser. Testemunha, por sorte ou azar, dos últimos anos de Weimar e também da audiência que a Escola de Frankfurt encontra hoje, interrogo-me sobre as causas do actual sucesso, assim como do lugar da Escola na Alemanha pré-hitleriana.

    Horkheimer vinha de famílias abastadas da burguesia de Frankfurt. Pollock, que geria os fundos do Instituto, e Adorno, o mais impressionante de todos pela sua cultura, pelo seu conhecimento de música e pela dificuldade do seu estilo, vinham do mesmo meio social. Todos, incluindo Marcuse, que na época não estava na primeira fila da Escola, se reclamavam, de um ou de outro modo, herdeiros de Marx. Politicamente, não apoiavam nem a social-democracia nem o Partido Comunista. Nada fizeram para salvar a República. Quando foram obrigados ao exílio, não hesitaram na direcção. Reconstruíram o "Institut für Sozialforschung" nos Estados Unidos, onde conduziram inquéritos sociológicos de que os mais célebres foram consagrados à família e à "personalidade autoritária". M. Horkhemer, W. Adorno, mais filósofos que sociólogos, misturavam crítica económica e crítica cultural da sociedade capitalista, como fez H. Marcuse de seguida, a quem os estudantes escolheram como mestre nos anos 60 e a quem garantiram a glória (p. 77).

  • Nos anos 60, Horkheimer tomou uma atitude hostil aos movimentos estudantis que exaltavam Marcuse, pois estava reduzido, à falta de um proletariado revolucionário, à Grande Recusa. Adorno, professor em Frankfurt, ficou profundamente afectado pelas manifestações hostis a seu respeito.

    Actualmente, J. Habermas representa outra geração, embora se ligue à Escola de Frankfurt. Também ele incorreu na cólera dos revoltados, por ter empregado a expressão "fascismo vermelho" a respeito deles. Na Alemanha de hoje, parece-me que a teoria crítica tem uma influência limitada. No mundo anglo-americano, o interesse acrescido pelo marxismo estende-se aos descendentes ilegítimos. A combinação de análise económica e denúncia moral convém mais aos radicais americanos do que aos marxistas puros (p. 78).
Livro: Raymond Aron (2007). Memórias. Lisboa: Guerra e Paz

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