quinta-feira, 9 de abril de 2009

A MULHER SEM CABEÇA

Não se sabe se Verónica (Vero) atropela um cão ou um homem. Nos dias seguintes, ela está estranha, não se recorda de nada, que tem duas filhas, que é médica. A passagem por uma noite num hotel não é confirmada tempos depois.

Escreve o crítico de cinema do Público, Vasco Câmara: "Como o espectador de um filme que não entende". Por instantes, apeteceu-me ir embora. Depois do atropelamento, a câmara fixa-se no rosto de María Onetto, a actriz que faz de Vero. Parece que não se passa nada, além do ruído do embate. A sequência no hospital, a cena anterior de uma festa com mulheres e crianças, as crianças indígenas brincando à face da estrada levam-nos lentamente a perceber, a imaginar o que terá acontecido. Quando o marido aparece com um animal morto, parece um homem quase primitivo, um marginal. Só lentamente nos apercebemos do seu estatuto (médico), das relações sociais.

Mulher sem Cabeça, filme da argentina Lucrecia Martel, leva-nos aos "insondáveis labirintos da percepção" (Vasco Câmara). Vale a pena ver o filme e ler a entrevista à realizadora no Ípsilon de sexta-feira passada.

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