
Joaquim Fidalgo foi jornalista fundador do Público, jornal que apareceu em Março de 1990. Antes, trabalhara no Jornal de Notícias (1980-1983) e no Expresso (1983-1989). No Público, fez parte da sua direcção e administração, até 1996, e foi redactor-principal e editor-chefe. De Outubro de 1999 até Setembro de 2001, foi provedor do leitor deste último jornal. Em 2002, abandonou o jornalismo enquanto actividade principal, para se dedicar a tempo inteiro ao ensino e à investigação na Universidade do Minho. Em 5 de Janeiro de 2007, defendeu com brilhantismo o seu trabalho de doutoramento (não fui a Braga assistir a essa prestação de provas, mas relatei o acontecimento no link acima).


O ano passado, na colecção da Porto Editora sobre comunicação, publicava O Jornalista em Construção. Informava a apresentação: "Este livro constitui a primeira parte da tese de doutoramento em Ciências da Comunicação por mim defendida em Janeiro de 2007, na Universidade do Minho, e cujo título é O lugar da ética e da auto-regulação na identidade profissional dos jornalistas". Destaco, do índice, os seguintes elementos: definição da profissão de jornalista, processo de profissionalização, princípio da diferenciação da profissão, jornalismo industrializado, estatuto de jornalista, responsabilidade social do jornalista, tecnologias da informação e alargamento do campo jornalístico.
Nesse livro, fez uma abordagem teórica da sociologia das profissões e dos paradigmas que nas últimas décadas do século XX foram objecto de estudo e debate. Seguindo de perto o texto de Maria de Lurdes Rodrigues sobre profissões, Fidalgo destacaria a diferenciação do jornalista, com "delimitação de um território próprio, distinto do de outras actividades que «faziam» o jornal e tributário de uma lógica de funcionamento também particular" (pp. 70-71). Ao estudar o jornalismo industrializado, o autor olhou a situação em França, nos Estados Unidos, em Portugal e em Espanha.

Na nota explicativa, Fidalgo indica:
- O objectivo central da investigação proposta é tentar compreender os contornos e as especificidades da profissão de jornalista (uma profissão reconhecida como tal e institucionalizada há escassas décadas), seja nos modos como ela é encarada e tratada pelos seus directos protagonistas, seja nos modos como ela é olhada e julgada pelo todo social em que está inscrita e com quem interage" (p. 18).
O ponto de partida é saber se o jornalismo é ou não uma profissão. O ponto de chegada (pp. 446-478) é constatar que a profissão do jornalista é uma construção situada e datada, o trabalho de comunicação do jornalista estabelece uma forma de poder, o conhecimento veiculado pelos media traz implícita uma atribuição de sentido e uma vinculação social, além de um poder de falar, a comunicação mediática é lugar privilegiado de debate público, a profissão exige uma ética e um saber próprio, o saber profissional e modelo de competência, carregados de responsabilidade social, verificada através da prestação de contas com mecanismos de auto-regulação e co-regulação, com devolução ao público e cidadãos do lugar de co-protagonista no processo de comunicação mediática, de ouvir e falar, com ética de recepção, sem esquecer a ética da empresa e escrúpulo deontológico, com identidade situada na organização e na profissão, e um suporte inicial, a formação.
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