Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
O TERCEIRO ANÚNCIO DO PÚBLICO
Parece uma recente obsessão minha: atender aos anúncios saídos no Público. Trata-se, contudo, de um exemplo a estudar, o da reflexão da importância dos media electrónicos face aos meios tradicionais, neste caso a internet e o telemóvel em relação ao papel.
Hoje, a publicidade/promoção do meio Público ocupa a página 9, página da direita, a mais visualizada. Está mais à frente no jornal que nos dois dias anteriores, que ocupavam duas das páginas mais importantes, a 2 e a 3. Significa que os autores da campanha estão satisfeitos com o reconhecimento e notoriedade entre os leitores do jornal, reduzindo a dimensão (duas para uma página) e fazendo publicar o anúncio numa página do interior e menos importante por isso.
O slogan mantém-se: "O Público Sou Eu". Mas a mensagem de hoje faz referência aos principais colunistas: António Barreto, Miguel Esteves Cardoso, Vasco Pulido Valente, José Pacheco Pereira. Ou seja, a defesa da opinião do jornal (por oposição às notícias, à factualidade dos acontecimentos), numa linha de continuidade face à mensagem de ontem, onde se defendia a independência do jornal, "doa a quem doer" e "Sou o Público da Verdade", mas abandonando, por redundância, o igual peso da informação em papel e em formatos electrónicos, como o anúncio de anteontem. Anúncios diferentes, com zonas iguais de informação, levam-nos a uma narrativa, como se fosse um folhetim.
Isso explica também os modelos humanos que acompanham a publicidade, os rostos - a dois rostos masculinos, sucede-se hoje um feminino. A zona de imagem desfocada ou menos precisa tem hoje outra configuração: a jovem mulher revela apenas o rosto e um a dois dedos da mão direita, envolvida em espuma no banho. O rosto é sereno e o olhar está fixo, algo ensimesmado.
As mensagens contidas nesta série fixam-se, já o escrevi, num público jovem, o alvo aparentemente fundamental da campanha. A mulher de hoje parece mais jovem que a do homem de anteontem. Mas se este me sugeria um intelectual muito virado para as tecnologias electrónicas de informação e o de ontem um jovem que ama as coisas boas da vida, combinando com uma profissão de sucesso e de muitas relações públicas, a mulher do anúncio de hoje encontra-se numa posição de descontracção depois de um dia de grandes decisões no escritório da empresa que dirige ou em que é uma das principais responsáveis.
Os variados formatos - tradicionais e modernos - são meios que interessam a estas personagens. Mas a quem se destina realmente a campanha? Aos leitores do jornal em papel? Aos leitores mais jovens? É uma campanha institucional sem impacto directo na formação de públicos leitores mas que destaca a excelência deste jornal face a outros?
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