quarta-feira, 15 de abril de 2009

SOBRE O JORNAL A CAPITAL


O tema de capa do número mais recente da JJ - Jornalismo & Jornalistas é o cartoon de imprensa. Mas retenho o texto de Daniel Ricardo sobre a história do jornal A Capital (1968-2005).

O director e o director-adjunto do Diário de Lisboa e alguns jornalistas haviam saído daquele jornal por discordância com a administração, que pretendia instalar uma máquina offset para impressão do jornal. Norberto Lopes e Mário Neves e os jornalistas que os seguiram acabariam por fundar A Capital, comprando o título à família Covões, proprietária do Coliseu dos Recreios, por um preço simbólico, com a condição de não trairem os valores republicanos. O primeiro número vendeu cem mil exemplares, correndo tudo bem até 1970. Mais jornalistas e máquinas de escrever para a redacção reflectiam o bom momento.

Depois, em 1971, dá-se uma profunda alteração, provocada pela quebra de vendas. Marcelo Caetano, então primeiro-ministro, conversava com um seu parente, administrador do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa: "Toda a imprensa da manhã nos apoia; desgraçadamente, os vespertinos são contra nós. A Capital está numa situação de pré-falência. Peço-lhe que a compre e a faça seguir uma linha editorial semelhante à da Época" [jornal afecto ao partido único, que apoiava Caetano].

Mas a redacção manteve-se unida e não permitiu desvios da linha editorial. Entretanto, a mudança de regime político, em 1974, alterou o rumo do jornal, seguindo o espírito de então. Nos últimos anos de existência, já esta década, o jornal passou por transformações, uma delas a de sair como matutino e como jornal da região de Lisboa. Desde a década de 1980, era visível o esgotamento dos jornais saídos às duas da tarde: a televisão e a mudança de hábitos (residência fora de Lisboa, o que implica um movimento de vaivém diário, com perda de tempos livres). Após o desaparecimento de jornais emblemáticos como Diário de Lisboa e Diário Popular, foi a vez de A Capital.

A Capital ficou como o primeiro jornal a eleger um conselho de redacção, tornando-se espaço de debates sobre a ética da profissão.

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