segunda-feira, 1 de junho de 2009

MEMÓRIA DO FADO

Retiro do Diário de Notícias de hoje (texto de Nuno Galopim):

  • Gravações de finais dos anos 20 e inícios dos anos 30 de Ercília Costa e de Maria Alice, e um conjunto de temas originalmente registados por Amália Rodrigues nos anos 50, correspondem aos três primeiros volumes de uma nova série de edições discográficas que a partir de hoje chega às lojas. [...] Ercília Costa (1902-1985) foi a primeira fadista portuguesa a ter grande exposição internacional, tendo realizado digressões em França, Estados Unidos e Brasil, e mantido também uma carreira como actriz de revista e, mais tarde, no cinema. As suas gravações são quase todas anteriores a 1950 e, por isso, um tanto esquecidas nos nossos dias. No disco agora editado são recuperados o seu histórico Fado de Alfama, entre outros, em gravações de 1920 e 1930. Maria Alice (1904-1997) foi outra das primeiras vozes do fado a conhecer gravação. Cantou em diversas casas de fado e chegou a actuar no Brasil. O disco desta colecção que lhe é dedicado recorda-a em gravações efectuadas entre 1929 e 1931.

Escreve ainda o jornalista:

  • Os discos de 78 rotações por minuto não correspondem ao mais antigo dos formatos usados pelo mercado discográfico mas, depois de uma etapa em que os fonogramas surgiam em cilindros, o disco acompanhou a expansão da indústria da música à escala global. A produção em grande escala na velocidade 'standard' de 78 rotações iniciou-se em 1925, mantendo-se ainda activa depois de o aparecimento do LP (em 1948), desaparecendo dos mercados ocidentais em meados dos anos 50 (sobrevivendo na Índia até aos anos 60).

1 comentário:

Antonio disse...

Interessante... mas o texto da notícia não deixa o discurso romântico, usual no jornalismo, quando aborda o passado. No entanto a questão central é mesmo outra, e vai no sentido contrário ao apontado.
É o disco, enquanto novo suporte, que viabiliza a emergência de uma indústria de fonogramas. Não "acompanha", antes, "dá origem a". E são os produtores dos gramofones que, para venderem as máquinas, começam a produzir gravações. A mediatização da música é o resultado da força de vendas do "hardware". Por outro lado, e até à decada de 60, a produção musical não é uma actividade autónoma. Está ligada às Indústria do Espectaculo; em Portugal é o Teatro Musical (Teatro de Revista) que se constitui como núcleo de produção musical até à decada de 40, quando a rádio começa também a induzir a criação de repertórios. A Industria Fonográfica, de pouca relevância em Portugal, acaba por possibilitar a autonomização dos repertórios (muitos dos quais, êxitos criados no teatro musical, especialmente do então designado fado-canção e da "canção ligeira"), porque possibilita a sua audição fora do sistema de produção do Teatro de Revista. É a Indústria fonográfica que autonomiza e legitima a canção como unidade, portanto como "obra". É por isso que estes discos são importantes.