segunda-feira, 9 de novembro de 2009

GALERIA TRETYAKOV


A galeria Tretyakov (Moscovo) tem obras de arte do século XII (ícones) até ao XX, como pintura, desenhos e escultura, num total de 62 salas. Admirei a pintura do século XIX, com cenas de vida rural, gente trabalhadora mas pobre, mesmo miserável, ao lado de retratos de burgueses e artistas, de grande realismo. A principal atracção é a Trindade (1420), de Andrei Rublev (um belo filme de Tarkovsky evoca essa pintura e esse tempo).

Retiro algumas ideias do livro editado pela galeria (Masterpieces of the State Tretyakov Gallery, 2007; textos de Yulia Kozlova, Svetlana Stepanova, Lyubov Zakharenkova, Maria Zinger-Golovkina e Eugenia Plotnikova), dividido em cinco partes: arte medieval russa (século XII-XVII), pintura (século XVIII à primeira metade do século XIX), pintura (segunda metade do século XIX), pintura (finais do século XIX e inícios do século XX) e desenho (do século XVIII ao XX). De um lado, a tradição de pintar ícones chegou à Rússia vinda de Constantinopla no momento da adopção do cristianismo em 988, em que a palavra grega ícone significa imagem ou representação. O elemento fundamental da cultura cristã seria a representação do homem em harmonia interior. A pintura surgida na Rússia no século XVIII ilustra o modo como a Rússia se associou à Europa moderna, afastada até aí de contactos com o ocidente. O retrato, os detalhes do vestuário, a vida política e estatal e as reformas do Estado russa reflectem-se nas obras de arte. O terceiro núcleo de obras de arte (segunda metade do século XIX) foi adquirido pelo próprio Pavel Mikhailovich Tretyakov (1832-1898), comerciante e industrial moscovita. Nota-se uma articulação com a cultura democrática e a sua perspectiva cívica, além do excelente gosto mostrado na aquisição de peças de estúdio e de exposições. Com a revolução russa de 1917, a colecção passou para o Estado, que ali depositou outras colecções, tornando hoje a galeria um local de inestimável qualidade da arte russa ao longo dos séculos.



A Procissão religiosa na província de Kursk, de Ilya Repin (1880-1883) [imagem retirada da Wikipedia] é espantosa, tendo-me feito lembrar uma pintura de José Malhoa.

A galeria Tretyakov fica na Zamoskvoreche ("para lá do rio de Moscovo") e a rua principal é a Pyatnitskaya Ulitsa, frente da linha dos russos contra os mongóis (século XIII). A zona não foi danificada no tempo de Estaline, mantendo casas neoclássicas e igrejas do século XIX, como as da Ressurreição, S. Clemente e Consolação de Todas as Dores.

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