Zut é uma interjeição que, em francês, significa nervosismo, receio. Zoé é um pronome feminino vindo do grego zoe ou zoï e que quer dizer vida ou existência, ou ainda uma grande vontade de acção ao lado de uma forte emoção. Zoé também pode significar a forma larvar de certos crustáceos.
Na canção Zut Zoë, que dá o título à banda e ao álbum, a letra de Barbara Weldens (música de Laurent Roussel) trabalha outra interpretação:
"Est-ce qu’il faut du talent pour l'amour / Est-ce qu’il faut du talent pour que ça dure toujours / Est-ce que ça se calcule comme un coefficient / Est-ce que ça se mesure comme l'alcool dans le sang / Moi j’étais persuadée que c’était instinctif / Que ça se j’etait sur un coeur comme la mer sur les récifs / Mais la mère se retire autant de fois qu’elle vient / Marée haute marée basse j’supporte plus le va et vient / Et je m’dis ho ho / Zut zoé / Laisse un peu les homo- / Sapiens t’aimer / Et je m’dis ho ho / Zut Zoé / Arrête de faire dans le mélo / Tu vas encore pleurer".
Tradução livre: "Será preciso talento para o amor / Será talento para que ele dure para sempre / Será como calcular um coeficiente / Será como medir o álcool no sangue / Estava convencida que era instintivo / Que era para o coração o que o mar é para os corais / Mas o mar vai e vem / Maré alta maré baixa / Eu aceito que vá e venha / E digo ho ho / Vida tramada / Deixa um pouco o Homo / Sapiens amar-te / E digo ho ho / Vida tramada / Deixa de dramatizar / Ainda vais chorar".
O CD foi lançado a semana passada, ainda sem etiqueta. As 12 músicas são: La maman qui voit double, Ne pas dire, In vitro, Geisha chagrine, Prisonniers de la même cage, Dans ma boîte, Un air de bordel, Quels que soient les mots, Mon ange gardienne, Drôle d’engin, Sans toi e Zut Zoé (as fotografias que acompanham o disco pertencem a Maria Letizia Piantoni).
Destaco três elementos do disco agora editado, o primeiro dos quais é Elodie Vom Hofe, actriz e cantora que assume neste projecto o nome de Zut Zoë, igualmente a designação da banda e do disco. Os seus projectos artísticos andam em torno de peças contemporâneas (criou a companhia Scena Nostra).
Em 2004, Elodie Vom Hofe conheceu Laurent Roussel, e falaram do mundo do espectáculo, do teatro e da música. Ela diz que se candidatou a um lugar de baby-sitter dos filhos de Roussel. Depois de uma primeira canção gravada, a colaboração estendeu-se ao que agora foi lançado (ver em Zut Zoë e Zut Zoë). Anteriormente Laurent Roussel compôs canções para o projecto de carácter ecológico Nos enfants chantent pour la planète, uma iniciativa de Direct-Energie, além de ter trabalhado com Matthew Neill (disco en octobre si tout va bien, 1997), a cantora Louisa Baileche e o músico Jean-Marc Zelwer (como neste álbum se observa), entre outros. Guitarras eléctricas e acústicas, percussão e teclados são alguns dos instrumentos tocados no CD por Roussel. Influenciado, entre outros, por David Sylvian, Jeff Buckley e Portishead, mas também Steve Reich e Erik Satie. Roussel trabalhou ainda em publicidade televisiva e em curtas-metragens.
O terceiro elemento que aqui distingo é Jean-Marc Zelwer, compositor e músico que toca diversos instrumentos, do acordeão à harpa. Cria um elegante mundo poético, como se pode ouvir no acordeão em La maman qui voit double, Geisha chagrine e Zut Zoé.
Se a música dos Zut Zoë é melodiosa, com teclados e percussão ora suaves ora poderosos, a voz da cantora mostra-se intimista, mas, por vezes, deixa um lamento sobre uma memória, como na canção Dans ma boite (letra de Benoît Macé, música de Laurent Roussel):
"Dans ma boîte, il y a / Des cailloux et des p'tits bouts / De tout et de rien / Mais qui me disent beaucoup / C’est doux d’avoir sous la main / Ces petits riens / Il y a tout ça / Tout est à moi / Je ne garde dans ma boîte à souvenirs / Que le meilleur du meilleur et du pire".
Tradução livre: "Na minha caixa, há / Pedras e pequenas coisas / de tudo e de nada / Mas que me dizem muito / É doce tê-las na mão / Essas pequenas coisas / Têm tudo / Tudo é meu / Na minha caixa de recordações / Só guardo o melhor do melhor e do pior".
As letras falam de universos urbanos em mutação, nos relacionamentos amorosos e nos seus momentos de confiança e de crise, nos anjos da guarda, no lirismo das situações do quotidiano e nos silêncios que as pessoas reservam mesmo no meio da multidão. O disco, experimental mas muito rico nas suas sonoridades, reflecte grupos em projectos de vanguarda, redes à volta dos teatrinhos e das salas de concerto de bairro, de ambientes que combinam a modernidade com alguma tradição (a modernidade do acordeão de Jean-Marc Zelwer lembra imagens mais antigas de Paris), da moda, da arte, dos cafés e da cultura.
Sobre Elodie Vom Hofe escrevi aqui (27 de Agosto de 2009) e sobre a banda aqui (19 de Abril de 2009), quando fiz uma espécie de mapeamento da chanson française (designação demasiadamente abrangente) no MySpace, contrariando a hegemonia da música de língua inglesa. Nessa altura, ouvira Sarah Caillibot num teatro-concerto e outros músicos e cantores em pequenos bares (o vídeo que eu copiara de uma canção dela já não está disponível no meu blogue, por alterações nos objectivos do sítio MySpace). Foi então que descobri (mas não ouvi ao vivo) Ana Pankratoff (realço a qualidade estética dos vídeos das suas canções) e os Zut Zoë, premiados então recentemente como banda revelação no "France Ô Folies Asnières 2008". Do MySpace para a edição em CD, Laurent Roussel e os companheiros demoraram algum tempo. Mas o resultado é feliz.
1 comentário:
"Dans ma boîte, il y a / Des cailloux et des p'tits bouts / De tout et de rien / Mais qui me disent beaucoup / C’est doux d’avoir sous la main / Ces petits riens / Il y a tout ça / Tout est à moi / Je ne garde dans ma boîte à souvenirs / Que le meilleur du meilleur et du pire".
Zut alors, que c'est beau, et comme je m'y sens toute entière! Merci de me l'avor fait connaitre. Je vais l'acheter et, c'est sûr, je penserai à vous.
Zut alors!
"ZUT ZOË"
Graça
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