sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

UMA ANÁLISE DA RECEPÇÃO DA NOVELA FLORIBELLA

Ontem, na Universidade Católica, Ana Luísa Branco defendeu o seu relatório de estágio (mestrado) com o tema A Floribella aos olhos das crianças: diferenças de género. A aluna, que havia estagiado no departamento de Licenciamento e Merchandising na SIC, procurou compreender as razões do sucesso da Floribella, ao nível das audiências, do volume de negócio que proporcionou ao licenciamento e junto dos espectadores mais novos (o relatório, que ficou com uma estrutura próxima de dissertação, foi co-orientado mais directamente por Verónica Policarpo, docente daquela universidade). O que interessa aqui no blogue é verificar o modo como a aluna analisou o fenómeno junto do público infanto-juvenil.

A primeira temporada de Floribella decorreu de 31 de Março de 2006 a 10 de Março de 2007 e a segunda de 20 de Abril de 2007 a 17 de Janeiro de 2008. A intérprete de Floribella foi a actriz Luciana Abreu (revelada como cantora no programa Ídolos), enquanto o príncipe Frederico Fritzenwalden foi interpretado por Diogo Amaral e o conde Máximo foi Ricardo Pereira.

A aluna partiu de duas bases distintas: 1) formato melodramático – bem versus mal, bons versus maus, expectativa de final feliz, 2) definição de Vladimir Propp sobre o que é comum em todos os contos: agressor (ou mau), doador (ou provedor), auxiliar, princesa, mandatário, herói, e falso herói. Usou uma abordagem qualitativa (conhecer a opinião das crianças portuguesas sobre a Floribella, reconstituindo os significados que atribuiram à história e às personagens, com acesso a diferentes contextos educacionais, familiares e económicos) em três unidades de observação (instituições escolares diferentes, dezoito crianças de idades aproximada até 12 anos e espectadoras assíduos de Floribella, com três sessões de grupos de foco, seis crianças em cada instituição, metade rapazes e metade raparigas, com elaboração de fichas de caracterização social e dos hábitos de consumo mediático das crianças, entrevistas orientadas por um guião e sessões gravadas com gravador digital).

Na primeira instituição escolar (colégio privado), os rapazes viam mais a Floribella do que as raparigas, as raparigas mostraram inicialmente alguma vergonha em admitir que gostavam da novela, rapazes e raparigas viram mais a primeira temporada do que a segunda, a maioria, sem televisão nos quartos, via os episódios na sala com a família, a internet faz parte do seu dia-a-dia, mas a maioria não consultava a página da Floribella, os rapazes preferem programas de comédia e as raparigas preferem séries infanto-juvenis, desenhos animados e programas de entretenimento.

Na segunda instituição escolar (escola privada, mas com apoios sociais), os rapazes e raparigas viram assiduamente as duas temporadas da Floribella, os episódios eram vistos maioritariamente na sala, com familiares, as raparigas vêem mais televisão que os rapazes, os rapazes utilizam mais a internet que as raparigas, rapazes e raparigas apontaram como preferência as séries infanto-juvenis e programas de entretenimento.

Na terceira instituição escolar (instituição particular de solidariedade social), rapazes e raparigas viam a primeira temporada "todos os dias", reduzindo o consumo na segunda temporada, viam os episódios numa sala comum a todos, utilizam muito pouco a internet, rapazes e raparigas preferem ver desenhos animados, as raparigas referiram também algumas novelas.

Em termos de produtos licenciados, os elementos dos grupos de foco entenderam que, se a música era para todos, todos os outros produtos tinham as meninas como alvo, apesar de não darem muita importância aos produtos (bastava ver na televisão), preferindo produtos relacionados com música (CD, DVD de karaoke e jogos). Rapazes e raparigas relembram a Floribella com carinho e entusiasmo, raparigas encantaram-se com uma história de amor, rapazes divertiram-se com as peripécias, as crianças são espectadores activos, os rapazes preferem a coragem e a audácia, enquanto as raparigas valorizam a doçura, o carinho e o romance, o contexto cultural e os grupos de pares onde estão inseridos influenciam a forma como as crianças admitem (ou não) gostar deste tipo de ficção, com a música, o humor e a presença de crianças num cenário grande e colorido a serem ingredientes para o sucesso da novela. A aluna também considerou que, embora o merchandising ajudasse, ele não foi determinante para o sucesso da novela.

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