domingo, 11 de abril de 2010

CINEMA QUE PARECE CINEMA

Alain Resnais nasceu em 1922 e o seu mais recente filme é Ervas Daninhas (2009), um manifesto muito modernista do cinema. A história é, aparentemente, simples: um homem de mais de 50 anos (André Dussollier) encontra uma carteira que pertence a uma mulher (Sabine Azéma). Entrega a carteira na polícia, mas procura descobrir quem é a mulher. Traça-se uma relação estranha de aproximação e afastamento entre os dois, o homem casado mas com uma mulher que o compreende e aceita até certo ponto (Anne Consigny), embora o filme não nos dê muitas indicações. Os aviões são um elemento mais fino dessa relação esboçada, acabando o filme (um dos finais do filme) com o homem a pilotar uma avioneta que era previamente conduzida pela mulher. O polícia que serve de ligação entre ambos é uma personagem estranha e interessante, ao mesmo tempo.

O que mais interessa no filme é a forma: a voz off que revela os pensamentos das personagens, a abertura do filme mostrando as ervas do chão, a nascerem de entre as fracturas do asfalto da rua, os sapatos dos transeuntes (e a compra de sapatos por parte da mulher personagem central do filme), o uso de imagens de computador quando o pequeno avião cai aparentemente (só se vê a marcha irregular dele no avião e um ténue estrépido), com a apresentação de uma paisagem quase perfeita de floresta e campos de cultivo e jardins, como se fosse um blockbuster americano de animação tipo Avatar. Também a iluminação das personagens me impressionou, com clichés remetendo para a memória do cinema, e o imenso humor. O filme não é verosímel, é uma construção, uma ilusão, e o segundo final ilustra isso, género: "mãe, se fosse um gato podia comer os croquetes"? Fica uma agradável sensação ao ver o definitivo fim na película.

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